segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Gols nos minutos finais

Uma das coisas mais decepcionantes do futebol é o seu time tomar gol no final de jogo, ter a vitória um empate revertida no apagar das luzes. Muitos torcedores (de vários times diferentes) dizem "nossa, tomar gol aos 48 minutos do segundo tempo é muita a cara do meu time". Mas até que ponto isto é verdadeiro? Até que ponto isto é exagero? Que times são mais - e menos - prejudicados com a ocorrência de gols no fim do jogo? É o que esta postagem vai investigar. A amostragem utilizada foi o Campeonato Brasileiro de 2014, série A. Foi decidido contar apenas gols acontecidos dos 35 minutos do segundo tempo em diante e a fonte para os dados foi o ZeroZero, portal português recheado de estatísticas de futebol e muito mais. Na primeira tabela vemos o número de gols feitos por cada time a partir do período de tempo definido:


O Fluminense lidera a lista com certa folga, enquanto Corinthians, Atlético-MG e São Paulo também chegam à casa dos dois dígitos. O Botafogo e especialmente o Criciúma tiveram desempenho fraco neste quesito. No entanto, o dado por si só não diz nada, pois é mais fácil a diferença entre Fluminense e Criciúma ser grande quando o número de gols em todas as condições é maior. Portanto, na próxima tabela segue o índice de gols após os 35 minutos do segundo tempo.


Vendo a tabela com o índice, surpreende a ótimo posição do Bahia: um a cada 3,44 gols foi marcado depois do tempo definido. No caso do Fluminense, este valor cai para 3,81. No caso do Criciúma (último colocado também no quesito índice), apenas um gol a cada 14 é feito depois dos 35 minutos do segundo tempo. Vamos agora os gols sofridos após aos 35 minutos do segundo tempo, conforme na tabela a seguir:


Novamente o Criciúma com destaque negativo. o Fluminense também aparece como um time que toma muitos gols no final do jogo, enquanto Goiás e Botafogo se destacam positivamente neste sentido, Não coincidentemente, o time que mais leva gols nos 10 minutos finais é o que menos faz. Vejamos agora a lista com os índices para melhor entendimento da situação:


Destaque negativo é para o Santos, que sofre mais de um quarto de seus gols nos 10 minutos finais. Criciúma em segundo, com Corinthians em uma péssima posição. O Goiás sofre nos 10 minutos finais apenas um gol a cada 13,33. Segue a tabela de saldo de gols contra e a favor:


A tabela é muito equilibrada: dois times disparados em cada sentido com um saldo muito alto (e baixo), com o resto da tabela com valores muito menos. O Fluminense acaba sendo o clube com melhor saldo, enquanto o Criciúma é o com pior saldo. Considerando o saldo com dados de entrada diferentes (o índice de gols feitos e o de gols tomados), temos um resultado diferente.


O Bahia salta na frente. Com o melhor índice de gols pró e o segundo melhor índice de gols contra, é líder com 17,40% de saldo. O Fluminense, com excelente saldo a favor e contra também vai bem neste quesito. O Goiás, apesar do índice de gols pró fraco, é salvo pelo índice de gols contra muito baixo. No fundo da tabela, se encontra o Criciúma, péssimo nos dois quesitos. Curiosamente, o Cruzeiro, campeão brasileiro de 2014, tem o segundo pior saldo de índices.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1962 - Parte 1

Já estamos no sexto texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas, esta será a primeira parte. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934, o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil, o quarto, que está aqui é sobra a Copa de 1954, na Suíça. Sobre a Copa de 1958, a primeira vencida pelo Brasil, este link vai te redirecionar para o texto correto. É recomendado que sejam lidos todos os textos anteriores afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Em 1962, a polêmica começa na definição do país sede. Após duas Copas seguidas serem realizadas na Europa (Suíça e Suécia, respectivamente), os americanos se revoltam e exigem que a Copa ou seria realizada na América do Sul ou não teria participação de americanos. A candidata favorita a sediar era a Argentina, que tinha um sonho antigo de ser anfitriã da competição. No entanto, o Chile aparece como candidato também, e acaba ganhando na eleição por 32 a 13, com 13 abstenções. Portanto o Chile é o segundo classificado (o primeiro é o Brasil, campeão da edição anterior.
Outro ponto que precisa ser entendido para a melhor compreensão do torneio é sobre a África. Quem tiver lido as postagens anteriores sobre as eliminatórias, pode ver que a África sempre teve muitos poucos representantes disputando as eliminatórias. No entanto, hoje a África conta com várias dezenas de países. Por que isto? A resposta é bem simples: praticamente não haviam países africanos independentes, o período de descolonização ainda estava engatinhando. Porém, isto começa a mudar na década de 50.
Até a Copa de 1958, havia apenas 9 países africanos independentes: Libéria, África do Sul, Egito, Etiópia, Líbia, Sudão, Tunísia, Marrocos e Gana. Após a Copa de 1958, revoluções e movimentos de independência pipocam no continente todo. Entre a Copa de 1962 e a anterior, ficam independentes: Guiné, Camarões, Togo, Mali, Senegal, República Malagasy (que viria a se tornar Madagascar), República do Congo (o antigo Congo Belga, que viria a se tornar Zaire e hoje se chama República Democrática do Congo), Somália, República do Dahoney (hoje chamado de Benin), Niger, República de Upper Volta (hoje se chama Burkina Faso), Costa do Marfim, Chade, República Centro Africana, República do Congo (de possessão francesa, hoje tem o mesmo nome), Gabão, Nigéria, Mauritânia, Serra Leoa e Tanganyka (que viria a se unir com a ilha de Zanzibar, onde nasceu o ex-cantor do Queen Freddie Mercury, para formar a Tanzânia. 20 países formados em apenas 4 anos. Com o passar do tempo, viriam a ser cada vez mais países disputando as eliminatórias por vagas na fase final da competição.
As eliminatórias europeias foram divididas em 10 grupos. O grupo 1, que continha as duas anfitriãs das Copas anteriores (Suíça e Suécia) e a Bélgica, tinha como regulamento todos jogando entre si em ida e volta, valendo uma só vaga para a fase final. O grupo é aberto pela Suécia vencendo a Bélgica em Estocolmo por 2x0. Seguem duas derrotas belgas para a Suíça, eliminando a equipe de Claessen e Van Himst. Os suecos goleiam os suíços por 4x0, empatando em pontos. Novamente, os escandinavos vencem, desta vez a já eliminada Bélgica em Bruxelas.
O jogo programado para ser o jogo final foi no domingo de 29 de outubro de 1961, em Berna, Suíça, contra a Suécia. Os donos da casa precisavam vencer para passar de fase, com os suecos bastando um empate. E os escandinavos saem na frente, com gol de Simonsson, que marcou contra o Brasil na final da Copa anterior. Isto aconteceu logo cedo, aos 2 minutos, com o histórico jogador suíço Charles Antenen empatando 6 minutos depois. Muitos minutos de jogo tenso, até, aos 23 do segundo tempo, Wüthrich virar o jogo. Aos 34 do segundo tempo, Ingve Brodd, artilheiro sueco nas eliminatórias, a época jogando no clube francês, Toulouse, faz gol e empata, dando momentaneamente a vaga para os suecos. Mas aos 36 do segundo tempo, o franco-suíço Norbert Eschmann marca, dando a vitória para os suíços, o que causaria empata em pontos e a necessidade de um jogo desempate. Duas semanas depois, se enfrentam na então Berlim Ocidental valendo a vaga. Brodd inaugurou o placar do jogo mas no segundo tempo Schneiter e Antenen, até hoje herói suíço, viram o placar da partida e garantem a vaga, para a festa da torcida em Berna, Zurique e demais localidades.
O grupo 2 tinha as mesmas regras, porém seus participantes eram França, a fraca Finlândia e a Bulgária. Dos 4 primeiros jogos do grupo, 3 envolviam a França (que venceu todos), que tinha da Copa anterior Piantoni entre outros e 3 envolviam a Finlândia (que perdeu todos e foi eliminada). Os búlgaros, que tinham vencido os finlandeses e perdido para os franceses, vencem novamente os finlandeses e partem para o jogo final em Sofia, precisando vencer, contra os então líderes franceses. Para os francos bastava um empate, que ocorria até os 44 do segundo tempo. Então o búlgaro Iliev, que já havia marcado um gol nas eliminatórias, contra a Finlândia, em Helsinki desempata – garantindo a vitória búlgara e um jogo desempate. Este seria realizado em Milão, na Itália. Nele, o búlgaro Yakimov, que recebe a bola na frente da área, manda um chute forte que bate na trave direita do goleiro e entra. Yakimov, ídolo de infância do maior jogador búlgaro da história, Stoichkov, é até hoje considerado entre os búlgaros “O Poeta do Futebol” por este gol e pela sua participação decisiva no gol que levaria os búlgaros para a Copa em 1966.

Já o terceiro grupo foi bem menos disputado. Havia nele as insossas Irlanda do Norte, que apesar de ainda ter Blanchflower, Gregg e McParland não era mais o mesmo time de outrora, Grécia e a forte Alemanha Ocidental, que contava com um já relativamente famoso Uwe Seeler e com os jovens Helmut Haller e Karl-Heinz Schnellinger. Esses dois últimos, por motivos diferentes, acabariam por escrever seus nomes na história do futebol mundial. Dentro de campo, a Alemanha não teve dificuldade. Estreou com duas vitórias fora de casa, 4x3 contra a Irlanda do Norte e 3x0 contra a Grécia. Nos dois jogos, quem marcou 3 gols foi o então atacante do Hamburgo, Gert Dörfel. Segue abaixo uma foto dele para melhor identificação:

Gert Dörfel
         Sim. Esse mesmo. Depois de se aposentar como jogador de futebol, Dörfel virou palhaço no famoso Circus Krone, um dos maiores circos da Europa. Após estes dois jogos, a Grécia vence os irlandeses por 2x1 com dois gols de Papaemmanouil e se mantém viva. Os irlandeses então visitam os alemães, precisando vencer para ter chance de se classificar, no entanto perdem novamente por 2x1, sendo eliminados. Os gregos, que precisavam vencer para se manter na disputa, visitam os já eliminados e perdem, selando a classificação alemã. Os gregos ainda jogam, somente para cumprir tabela, um jogo contra a Alemanha Ocidental em Augsburg, em que brilha a estrela de Uwe Seeler, que marca dois gols e garante 100% de aproveitamento para os alemães.
No grupo 4, que tinha o mesmo regulamento, participavam Hungria, Holanda e Alemanha Oriental. A grande favorita era a Hungria, que além de ainda ter o goleiro Grosics dos Magiares Mágicos, tinha o já veterano Károly Sandor, Lajos Tichy em grande fase e estava surgindo na seleção o jovem Flórián Albert, que viria a se tornar o maior jogador húngaro pós-54. Os húngaros começaram vencendo os alemães orientais em Budapeste e em seguida os holandeses em Roterdã, praticamente selando a classificação. Os alemães orientais empatam em casa com os holandeses para depois perderem em casa para os húngaros, que se classificam. Em 1 de outubro de 1961, deveria acontecer Holanda x Alemanha Oriental na Holanda, porém os alemães foram proibidos de entrar no país devido a problemas com visto. Como os húngaros já estavam classificados, o jogo, que não valeria nada, não foi remarcado. O último jogo do grupo, para cumprir tabela, foi um eletrizante Hungria 3x3 Holanda em Budapeste.
Grupo 5: mesmo regulamento dos anteriores, porém com a União Soviética, Turquia e Noruega. O resultado foi um massacre soviético, com tinha em seu escrete o grande Valery Voronin: 4 vitórias em 4 jogos, com 8 gols de saldo. Os turcos conseguem vencer as duas contra os noruegueses, que são eliminados sem um ponto sequer.
O sexto grupo, que também tinha o mesmo formato e regras dos anteriores, tinha Inglaterra, de Bobby Charlton, Jimmy Greaves, Ray Wilson e Bobby Robson, Portugal, de José Águas, o grande Mário Coluna e o gigante Eusébio, que viria a ser artilheiro da Copa de 1966 e um dos maiores jogadores da história, todos treinados pelo lendário Peyroteo (apenas nos dois últimos jogos). Peyroteo se tornou famoso no fim da década de 30 e na década de 40 por ser o grande craque do clube português Sporting. Durante seu período no clube, Peyroteo teve a incrível média de 1,61 gols por jogo. Marcou 531 gols em 328 jogos. Tudo começa normal: Luxemburgo sendo Luxemburgo e só perdendo. Toma 9x0 em casa, com hat trick de Greaves e de Charlton, para depois perder para Portugal por 6x0 em Lisboa. No jogo mais esperado, Portugal e Inglaterra em Lisboa, 1x1 com gols de Águas para os lusos e Flowers para os britânicos. Os britânicos seguem para Londres, onde vencem os luxemburgueses por 4x1.
Então chega a vez de Portugal enfrentar Luxemburgo como visitante. Jogo que entraria para a história por 2 motivos: o primeiro, foi o primeiro jogo de Eusébio com a camisa da seleção portuguesa, inclusive tendo marcado um gol. Segundo motivo: o esperado era um massacre português. Porém, dentro de campo não foi bem assim. O até então desconhecido meia luxemburguês Ady Schmit, do clube local Fola Esch, comanda a vitória do país natal por históricos 4x2, primeira vitória da seleção local em Copas. Perplexos e já eliminados, os lusos perdem para os ingleses por 2x0 em Londres, num jogo apenas para cumprir tabela.
O próximo grupo era diferente de todos: contava com 5 times, e apesar de fazer parte das eliminatórios europeias havia times da Europa, Ásia e África. Começa numa fase preliminar: se enfrentam, em ida e volta, Israel e Chipre. O vencedor pegaria a Etiópia, que foi autorizada a jogar as eliminatórias pelo Europa. O vencedor deste segundo confronto enfrentaria o vencedor de Romênia x Itália. Os dois times vencedores fariam uma final entre si. Israel empata com o Chipre em 1x1 em Nicósia e na volta, em Tel-Aviv, comandada por Shlomo Levi, autor de um hat trick, goleia por 6x1 e garante sua disputa contra a Etiópia. Quem se destaca contra os africanos é Yehoshua Glazer, que marca o gol único da partida de ida e mais dois no 3x2 para os israelenses na volta – ambas as partidas jogadas em solo israelense.
No outro lado das “semifinais”, não houve jogo, pois, a Romênia desistiu, com a Itália avançando para a final contra Israel. O elenco italiano contava com um campeão do mundo: José Altafini, vulgo Mazzola, campeão da Copa do Mundo de 1958 pelo Brasil. O apelido Mazzola era por causa da semelhança física com o cérebro do grande time do Torino nos anos 40, Valentino Mazzola. Contava com outro grande craque naturalizado: Omar Sívori. Argentino de nascimento, fez sucesso no país natal pelo River Plate e daí rumou para a Juventus da Itália, clube do qual se tornou um dos maiores ídolos. Também contava com outros jogadores de destaque: Giovanni Trapattoni, que viria a ser grande ídolo do Milan e um dos maiores técnicos da história da Juventus, do futebol italiano e do futebol mundial, Cesare Maldini, grande zagueiro da história do Milan e pai do ídolo italiano Paolo Maldini, além do goleiro Buffon. Este é Lorenzo Buffon, primo do avô do atual goleiro Gianluigi Buffon. Com todos esses grandes jogadores, o esperado era uma vitória italiano. E ela veio.
         Em Tel-Aviv, na ida, os Israelenses vão para o intervalo com uma vantagem de 2 gols, marcados por Stelmach e Young. Aos 8 minutos da segunda etapa Lojacono diminui de pênalti. Mazzola empata aos 34 do segundo. Aos 42, Corso vira a partida e o mesmo Corso marca o quarto gol aos 45 do segundo tempo. Na volta, em Turim, no estádio Olímpico, casa do Torino (apesar do estádio ser municipal), a Itália goleia por 6x0, comandada por Omar Sívori, ídolo dos rivais dos donos da casa, que marcou 4 gols e selou a classificação italiana para Copa.
         De volta ao formato antigo: 3 times, uma vaga, ida e volta. Desta vez, a vaga era disputada por Irlanda, Escócia e Tchecoslováquia. Os irlandeses, sem muitos destaques, sofrem duas pesadas derrotas para a Escócia – 4x1 em Glasgow e 3x0 em Dublin – e ficam quase eliminados. Dentre os destaques escoceses, estava Denis Law, então jogador do Torino, depois vindo a fazer muito sucesso no Manchester United. No primeiro jogo entre os tchecoslovacos e escoceses, em Bratislava, os donos da casa goleiam os britânicos por 4x0, dando esperança para os irlandeses. Não foi uma derrota a toa, os tchecoslovacos contavam com seu maior time da história, com jogadores como o goleiro Schrojf, os defensores Tichý, Pluskal, Popluhár, Scherer no ataque e no meio o que viria a ser o melhor jogador da Europa: Josef Masopust.
A volta, em Glasgow, foi numa terça, 26 de setembro de 1961. 51590 pessoas compareceram ao estádio para prestigiar o que viria a ser um jogão de bola. Kvašňák abre o placar para os então comunistas tchecoslovacos, Ian St. John, atacante do Liverpool, empata para os escoceses. Aos 6 do segundo tempo, Scherer deixa os visitantes novamente na frente. A Irlanda, que precisava de uma derrota de seus vizinhos britânicos para ter chances de seguir, comemora. No entanto, brilhou a estrela do craque: Denis Law. 11 minutos depois de ver seu time começar a perder, ele empata a partida. E novamente, desta vez faltando 7 minutos para o fim do jogo, marca. Dá a vitória para os escoceses. Este resultado elimina os irlandeses. E força os eslavos a ganharem as duas partidas contra os já eliminados para terem chance de disputar a fase final da Copa. E é o que acontece: comandados por Kvašňák e Scherer, vencem por 3x1 em Dublin e massacram em Praga: 7x1 (foi pouco).

Como houve empate em pontos, a decisão partiu para o jogo desempate em campo neutro. Seria no estádio Rei Bauduíno (popularmente conhecido como Estádio de Heysel), em Bruxelas. Acabaria por ser outro jogo para entrar na história. Quem saiu na frente foram, desta vez, os escoceses. Ian St. John, pouco antes do intervalo, deixa o seu. Tudo segue igual até os 25 minutos do segundo tempo, quando Hledík empata. Nem deu tempo da torcida eslava comemorar, um minuto depois, St. John faz 2x1. O jogo pega fogo. 9 minutos depois, aos 35, Scherer empata. Temos prorrogação. Aos 6 minutos do primeiro tempo dela, Pospíchal põe os tchecoslovacos na frente. 5 minutos depois, Kvašňák deixa o seu. Após minutos de muita pressão, o jogo termina. A vaga é da Tchecoslováquia.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1958

Chegamos ao queinto texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934, o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil, o quarto, que está aqui é sobra a Copa de 1954, na Suíça. É recomendado que sejam lidos todos os textos anteriores afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Nas eliminatórias para a Copa de 1954 já podemos notar um grande avanço quanto à organização de regras, mas para a Copa de 1958 o avanço foi maior ainda. Ainda que tendo melhorado, quando perceberam que era a maior zona, algo poderia ser feito. Dois países foram classificados automaticamente: a Alemanha Ocidental, campeão da Copa anterior e a Suécia, país-sede. Foram definidas 3 vagas para a América do Sul, 1 para a América do Norte e Central, 11 para a Europa e 1 para a África e Ásia. Time se classificarem sem jogar devido a desistência de adversários era algo que era comum nas eliminatórias anteriores, então a FIFA decidiu impor uma regra: todo os times teriam que ter jogado pelo menos um jogo para se classificar. Regra essa que se tornou muito importante, como veremos a seguir.
O primeiro grupo da UEFA era composto por Inglaterra, Irlanda e Dinamarca. O regulamento dele, tal qual dos outros grupos da UEFA era o seguinte: todos se enfrentavam em ida e volta. O melhor de cada grupo passava. Os escandinavos foram muito mal, perdendo todos os jogos. Já a Irlanda, começou mais ou menos. Venceu a Dinamarca, mas foi goleada pela Inglaterra em Londres, 5x1, para empatar em 1x1 da volta em Dublin. Empate este que selou a classificação inglesa à Copa.
Islândia, França e Bélgica disputavam uma vaga no segundo grupo. Como era esperado, a Islândia foi terrível. Perdeu todas tomando incríveis 26 gols - uma média de 6,5 gols tomados por jogo. A França, que além do franco-polonês Cisowski se mostrar um artilheiro nato, contava com Piantoni, Kopa e Fontaine. Na estreia, venceu a Bélgica por 6x3, 5 gols de Cisowski. Faz 8x0 e 5x1 na Islândia. Como a Bélgica também venceu os dois jogos contra a Islândia, ainda não estava definido. Os franceses, com 6 pontos, contra 4 pontos dos belgas. Com uma simples vitória em Bruxelas, a Bélgica levava a França para o desempate pela vaga. Porém, os franceses conseguem segurar o ímpeto dos belgas e se classificam depois de um 0x0.
Agora já não com critérios político-ideológicos, caem no mesmo grupo Hungria, Bulgária e Noruega. A Hungria, que havia encantado o mundo na Copa de 1954 não era a mesma. Boa parte dos jogadores da seleção que foi vice-campeão era do Honvéd, de Budapeste. O Honved, campeão do Campeonato Húngaro de 1955, se classificou para a Copa Europeia de 1956-57 (atual liga dos campeões), enfrentou o Athletic de Bilbao na primeira fase, perdendo por 3x2. Antes de voltar para casa, explode a Revolução Húngara. Um movimento húngaro por reformas no regime vigente e crítico aos desmandos soviéticos no país. Os soviéticos, governados na época por Nikita Khrushchev, mandam tropas para a Hungria e reprimem o movimento. Com isto, os atletas do Honved decidiram não voltar à Hungria, e jogaram o jogo de volta em Bruxelas, perdendo por 3x2 novamente. E agora? Ficaram dois anos fazendo amistosos pelo mundo para se sustentarem. Kocsis e Czibor rumam para o Barcelona. Púskas para o Real Madri. Hidegkuti e Bozsik decidem voltar e não são considerados traidores enquanto Puskas, Kocsis e Czibor são. São banidos do país e devido a fortíssima ligação entre política e futebol na Hungria, nunca mais foram convocados para a seleção, passando décadas sem nem voltar ao país natal. Com isto, a Hungria havia perdido grande parte do seu poder. Com isto, começa a ter mais espaço um que depois seria lembrado como um dos grandes jogadores húngaros: Lajos Tichy.
No primeiro turno, a Noruega joga as duas em casa. Perde por 2x1 para os búlgaros e vence pelo mesmo placar os húngaros (com o gol de honra húngaro sendo marcado por Tichy). No confronto em Budapeste, Ferenc Machos dá show, marca 3 gols e a Hungria vence por 4x1. Até então o grupo está muito equilibrado, com todos os times empatados com 2 pontos. No primeiro jogo do returno, em Sofia, capital búlgara, a Hungria vence por 2 gols de Hidegkuti e se isola. Novamente em Sofia, a Bulgária desta vez vence a Noruega por 7x0 e empata em pontos com os húngaros. Em 10 de novembro de 1957, os húngaros entram em campo em Budapeste contra a Noruega, precisando de apenas um empate para confirmar a vaga. Fazem 5x0 e estão classificados.
Tchecoslováquia, País de Gales e Alemanha Oriental fazem parte do quarto grupo. Gales começa jogando 3 jogos seguidos, uma vitória contra a Tchecoslováquia em Cardiff e duas derrotas fora. Após estes jogos, os tchecoslovacos vencem os alemães orientais por 3x1. Os alemães orientais também perdem por 4x1 para País de Gales, sendo eliminados. Em Leipzig, Alemanha Oriental, os germânicos também perdem para a Tchecoslováquia, que é classificada com esse resultado.
 O quinto grupo é formado por Áustria, Holanda e Luxemburgo. Este último estreia perdendo tanto para Áustria como para Holanda. Os austríacos vencem os holandeses em Viena por 3x2 num jogaço, que foi para o intervalo com 2x0 para os holandeses e teve gol de desempate aos 44 do segundo tempo. No jogo de volta, em Amsterdã, os países empatam em 0x0, sobrando para a Áustria a classificação com empate ou vitória contra Luxemburgo. E o eterno saco de pancadas dos europeus toma 3x0 dos austríacos, classificando os mesmos para a fase final da Copa.
No sexto grupo, que continha URSS, Polônia e Finlândia, foi necessário um desempate. A Finlândia perdeu todos os jogos, inclusive tomando 10x0 em casa dos soviéticos. Como houve empate em pontos de URSS e Polônia, partiram para um jogo desempate em Leipzig, na Alemanha Oriental. Strelstov e Fedosov marcaram os dois gols da vitória soviética, classificando o país à fase final da Copa.
Seguindo o padrão de dois clubes do bloco soviético e um de fora o grupo, o sétimo grupo contava com Iugoslávia, Romênia e Grécia. Os helênicos, que estrearam com um empate contra a Iugoslávia em casa, perderam todos os jogos em seguida e não apresentaram perigo. A verdadeira disputa seria entre Romênia e Iugoslávia. No turno, empatam por 1x1 em Bucareste. Como a Iugoslávia havia empatado com Grécia e Romênia havia ganho as duas, os romenos foram com a vantagem do empate para o confronto final. 17 de novembro de 1957, em Belgrado, a Iugoslávia, precisando vencer, enfrenta a Romênia valendo a vaga do grupo. Com dois gols de Milutinovic, os balcânicos passam de fase e a torcida local faz a festa.
O oitavo grupo contou com um dos jogos mais marcantes da história das eliminatórios. Os membros do grupo eram Portugal, Itália e Irlanda do Norte. Os irlandeses, de Danny Blanchflower começam mal, com empate em 1x1 com os lusos e uma derrota por 1x0 para os italianos. Na volta, fazem 3x0 em Portugal em Belfast, placar repetido em Portugal x Itália em Lisboa. Portugal, tal qual Irlanda do Norte, tinham 3 pontos, contra 2 dos italianos. No dia 4 de dezembro ocorre um jogo histórico: Irlanda do Norte x Itália, em Belfast. O árbitro, um húngaro chamado Istvan Zolt, vinha de Londres para Belfast, porém a constante neblina na capital britânica impediu que ele chegasse a tempo. Com isto, o jogo era adiado.
Mas quem tá na chuva é pra se molhar, certo? Os dois times decidiram jogar mesmo assim, porém como um amistoso, sem valor algum. O jogo termina num 2x2 em que jogadores italianos foram muito violentos. Isto, aliado ao stress causado pelo atraso do jogo, fez com que a torcida invadisse o campo. O jogo é até hoje conhecido como a Batalha de Belfast. A Itália devolve os 3x0 dos portugueses, eliminando-os e ficando líder, com 4 pontos contra 3 dos irlandeses. Porém, não se deve esquecer que havia o jogo remarcado. Em 15 de janeiro de 1958, os norte-irlandeses vencem os italianos por 2x1 (com o gol de honra italiano sendo marcado pelo ítalo-brasileiro Dino da Costa, de breve sucesso no Botafogo) e se classificam. Até hoje, foi a única vez que a Itália não se classificou para a Copa.
Eram 9 grupos de times europeus. O nono e último era de Espanha, Escócia e Suíça. A Suíça, que contava com Hügi, não foi bem e conseguiu apenas um ponto, referente a um empate com a Espanha em Madri. Os espanhóis, que tinham em seu elenco Kubala, Luis Suárez e Di Stéfano, vencem o jogo de volta contra a Suíça (que seria o último do grupo, não valendo nada) e perdem uma das partidas contra a Escócia, que vence a outra. Como a Escócia havia vencido a Suíça na ida, a sua vitória contra os suíços na volta já significou a sua classificação.
Começo então a escrever sobre as eliminatórias sulamericanas. O grupo 1 continha Brasil, Venezuela (que desistira antes de jogar) e Peru, Com um empate em Lima e uma vitória pelo placar mínimo com gol do Príncipe Etíope Didi, o Brasil garantia a sua vaga.
O segundo grupo sulamericano tinha Argentina, Bolívia e Chile. Este último estrearia com vitória: sua única neste mundial. Bolívia e Argentina venceram duas partidas cada uma e foram para o último jogo, em Buenos Aires, valendo a vaga. Goleada argentina por 4x0, que ficou com a vaga.
Já o terceiro e último grupo dos sulamericanos tinha Uruguai, Colômbia e Paraguai. A Colômbia estreia com empate em casa contra o Uruguai (que ainda continha Míguez, campeão da Copa de 1950). Seria seu único ponto, pois perdeu todos os outros jogos. Este ponto conquistado pelos colombianos - na verdade o ponto uruguaio roubado com o empate - faria toda a diferença. O Uruguai passou de fase com 6 pontos, contra 5 do Uruguai, que foi eliminado.
As eliminatórias centro e norte americanas tinham outro formato. Dois grupos: o grupo 1, com México, EUA e Canadá e o grupo 2, com Costa Rica, Guatemala e o Território de Curaçao (parte da Holanda). No primeiro grupo, o México ganhou com muita folga: 4 vitórias em 4 jogos, 18 gols pró e 2 gols contra. O pior foi os EUA, perdendo todos os jogos e tomando 21 gols. O Canadá perdeu os dois conta o México e ganhou os dois dos EUA, ficando no meio da tabela. No segundo grupo ocorrem alguns fatos curiosos. A Costa Rica ganhou com folga, mas é de se destacar que no seu segundo jogo contra a Guatemala, os guatemaltecos, então perdendo por 3x1, abandonaram o campo. O último jogo, Território de Curaçao x Guatemala não aconteceu pois os jogadores guatemaltecas não ganharam o visto para poder jogar o jogo em território então holandês. No entanto, o jogo seria apenas para cumprir tabela. Os campeões de cada grupo jogaram duas finais entre si. A ida vencida pelo México por 2x0 e a volta empatada em 1x1, com a vaga conquistada pelos mexicanos.
Há apenas mais uma vaga para ser disputada: a da África e Ásia. Começa na rodada preliminar. República da China (Taiwan) x Indonésia. Os taiwaneses desistem e a Indonésia parte para o grupo 1, com Austrália e China continental (conhecida somente como China). Os australianos desistem. Já os indonésios, liderados tecnicamente por Rusli Ramang, vencem a ida contra os chineses por 2x0, perdem por 4x3 na volta em Pequim e partem para um jogo desempate, em Rangoom. na Birmânia (atual Myanmar). Empatam em 0x0, com a Indonésia passando por melhor goal average. O grupo 2 continha Israel e Turquia. Os turcos se recusaram jogar com os países asiáticos, e com isto Israel passa. O Grupo 3 tinha Egito e Chipre, Chipre se retira e Egito passa. Já no quarto grupo, não há desistência. Sudão e Síria se enfrentam primeiro em Cartum e na volta em Damasco. Vitória sudanesa por 1x0 e 1x1 em Damasco - os dois gols do país africano foram de El Din Osman.
A segunda fase das eliminatórias asiática conta com o campeão de cada grupo, ou seja, Indonésia, Egito, Sudão e Israel. Egito e Indonésia, países de maioria muçulmana, por solidariedade à causa palestina, se recusam a jogar com Israel. A Indonésia diz até aceitar, mas somente se em campo neutro, pedido não atendido, com Israel e Sudão classificados para a terceira e última fase. O Sudão então se recusa a enfrentar Israel, que seria a qualificada. Mas espera aí: lembra que a FIFA dizia que todo país tinha que ao menos enfrentar algum time? Os israelenses não enfrentaram ninguém, portanto foi decidido o seguinte: foi sorteado um segundo colocado de algum grupo das eliminatórias europeias para enfrentar Israel em ida e volta. A Bélgica, sorteada, prefere não jogar, sobra para País de Gales vencer os asiáticos por 2x0 duas vezes - em Tel Aviv e em Cardiff.
Com tudo isto, os classificados são Argentina, Áustria, Brasil, Tchecoslováquia, Inglaterra, França, Hungria, México, Irlanda do Norte, Paraguai, Suécia, Escócia, URSS, País de Gales (única vez que as 4 nações constituintes do Reino Unido jogaram a fase final da Copa), Alemanha Ocidental e Iugoslávia. 55 inscrições foram feitas. 2 foram rejeitadas (Etiópia e Coréia do Sul). 5 times desistiram (Venezuela, Taiwan, Chipre, Egito e Turquia). 46 times jogaram pelo menos uma partida. 89 partidas foram jogadas e 341 gols feitos, uma média de 3,83 gols por jogo. Foi a primeira vez que Argentina, Bolívia, Canadá, China, Costa Rica, Antilhas Holandesas, Chipre, Dinamarca, Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, Guatemala, Islândia, Indonésia, Peru, União Soviética, Sudão e Uruguai disputaram algum jogo de eliminatórias.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1954

Este é o quarto texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934, o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil. É recomendado que sejam lidos todos os textos anteriores afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Para esta copa, é notada uma organização muito maior, menos times desistindo. Dois times já estavam classificados: a Suíça, país sede, e o Uruguai campeão no famoso Maracanazzo. Os regulamentos de quase todos os grupos são uniformizados, com 3 times por grupo, se enfrentado em ida e volta, cada um valendo uma vaga. 
O primeiro grupo era formado por Alemanha Ocidental (agora com uma federação própria, separada da Alemanha Oriental), Noruega e protetorado do Sarre. Você deve estar se perguntando: Sarre? Quem? Bom, como parte da partição da Alemanha, um pedaço pequeno passou a ser protetorado francês, onde hoje temos o estado do Sarre, cuja capital é Saarbrücken. A Alemanha consegue a vaga, ganhando os dois jogos contra o Sarre, empatando um e ganhando o outro contra a Noruega. O Sarre consegue um segundo lugar, vencendo uma contra a Noruega e empatando a outra. Os escandinavos, pouco tradicionais no futebol, ficam na lanterna sem uma vitória sequer.
O segundo grupo, também feito de maneira política (tentava se separar os países do Bloco Soviético dos demais europeus), contava com Bélgica, Suécia e Finlândia. A Bélgica ficou líder sem grandes dificuldades. Venceu seus dois jogos fora, empatou em casa com a Finlândia e no último jogo, em casa contra os suecos, venceu por 2x0. A Suécia, que estreia levando 3x2 dos belgas, faz 4x0 e 3x3 contra os vizinhos finlandeses (em casa e fora, respescticamente), porém no último jogo, com os belgas, valendo vaga, perde e fica em segundo lugar.
Já relativo às nações britânicas, no grupo 3, foi repetido o critério da edição anterior da Copa, foi aproveitado o British Home Championship. Nele, a Inglaterra é avassaladora. Vitórias de 4x1 contra Gales em Cardiff, 3x1 com a Irlanda do Norte em Liverpool e 4x2 na Escócia em Glasgow. A Escócia fica com o segundo lugar – e decide aceitar a vaga. Estreia com uma importantíssima vitória contra a Irlanda do Norte em Belfast, empata em casa com País de Gales (do Gigante Buono John Charles) num eletrizante 3x3 com um gol salvador do mesmo aos 43 do segundo tempo. É o único ponto dos galeses na competição, que perdem todos os outros jogos. Já os norte-irlandeses conseguem uma vitória de honra contra os galeses, 2x1 em Wrexham, no País de Gales, com dois gols de Peter McParland – um dos maiores senão o maior jogador da história dos irlandeses.
O quarto grupo é composto de França, Irlanda e Luxemburgo. Luxemburgo, como sempre, é o saco de pancadas e perde todos os jogos, marcando um gol e sofrendo 19. A Irlanda vence as duas contra Luxemburgo e perde as duas contra os franceses. Estes, com 100% de aproveitamento, marcam incríveis 20 gols nos seus 4 jogos. Começava a desabrochar o talento dos craques Piantoni, Kopa e Fontaine. O jogo em Paris contra os luxemburgueses é uma sova, 8x0 com hat trick de Fontaine, que na próxima Copa viria a marcar 13 gols em 6 jogos e escrever seu nome na história do futebol.
Já no próximo grupo, o quinto, se enfrentariam a Áustria – que viria a ser um dos grandes times desta edição da Copa – e Portugal. Na ida, em Viena, Probst marca cinco gols e comanda a goleada austríaca – que termina em 9x1, com um gol também dos grandes Ocwrik, Wagner, de Dienst e um de pênalti de Ernst Happel, que depois viria a se tornar um dos maiores treinadores da história do futebol. Na volta, um 0x0 garante os germânicos na Copa.
No sexto grupo houve uma situação curiosíssima: se enfrentariam Espanha e Turquia. Não havia salde de gols, com os espanhóis tendo goleado por 4x1 na ida e perdido por 1x0 na volta, em Istambul. É marcado um jogo extra, em terreno neutro – no caso, o Estádio Olímpico de Roma – que após a Turquia estar vencendo por 2x1 até os 33 do segundo tempo, vira um 2x2 com o gol espanhol de Escudero. Com o empate, como seria decidida a vaga? Sorteio. Isso mesmo, uma vaga na Copa do Mundo sendo decidida por sorteio. Um menino romano de 14 anos chamado Luigi Frango Gemma, cujo pai trabalha no estádio teve seus olhos vendados. Eram dois papéis, um escrito Turquia e um Espanha. O menino pega o da Turquia, que está classificada.
O sétimo grupo continha originalmente Hungria, Polônia e Alemanha Oriental. Em 1953 trabalhadores da construção civil da então Berlim Oriental decidem entrar em greve, e em resposta são duramente reprimidos pela força nacional local, a Volkspolizei e pelas tropas soviéticas. Essa instabilidade faz com que os alemães orientais prefiram não jogar a Copa. Fariam bem. A Polônia acaba desistindo, e a Hungria, vivendo a geração dos Magiáres Mágicos, de Púskas, Kocsis, Czibor, Hidegkuti, Bozsik e Grosics, vinha formando um grande time, invicta desde 1950, nesse meio tempo impondo duas humilhantes vitórias contra os ingleses, que já estavam com o orgulho ferido devido à derrota para o semi-amador time dos EUA na Copa de 1950, acaba se classificando sem jogar. Todos os times do grupo faziam parte do chamado Bloco Soviético, que era o conjunto da URSS e dos países que mantinham forte ligação – ou relações – com a mesma, todos vivendo sob semelhantes modelos socialistas.
Na mesma lógica de enfrentar países de ideologia semelhante, o grupo é formado por Tchecoslováquia, Romênia e Bulgária. Os tchecoslovacos estreiam fazendo 2x0 nos romenos, para a seguir os romenos vencerem os búlgaros por 3x1, também derrotados pelos tchecoslovacos por 2x1 – mas em casa, na capital Sofia. Com o fim do primeiro turno do grupo, a Tchecoslováquia é líder com 4 pontos, seguida da Romênia com 2 e a Bulgária com 0. No returno, os romenos visitam os búlgaros e vencem por 2x1, empatando em 4 pontos e partindo para a decisão da vaga na capital romena, Bucareste. Um jogo tenso, com Safranek marcando de pênalti para os tchecos aos 38 do primeiro tempo. Seria o único gol da partida, classificando os tchecoslovacos, que ainda enfrentariam a Bulgária em Bratislava e empatariam sem gols.
Egito e Itália se degladiariam no nono grupo. Duas vitórias italianas: 2x1 no estádio Mokhtar El Tetsh, em Cairo, hoje usado para treinamentos do Al Ahly, e um sonoro 5x0 no estádio Giuseppe Meazza (também conhecido como San Siro) em Milão. Classificação italiana, que ainda sofria com a trauma do melhor time do país o Torino, comandado por Valentino Mazzola, ter sofrido um acidente de avião em 1949. O time voltava de Lisboa, onde havia disputado um amistoso com o Benfica, quando o seu avião bateu na Basílica de Superga, que fica num morro em Turim. Todos os passageiros e tripulantes viriam a falecer.
Israel, que disputava as eliminatórias pela UEFA (confederação europeia de futebol), devido a desentendimentos e não reconhecimento dos países árabes (devido a simpatia com a causa palestina) da AFC (confederação asiática de futebol). Caiu no mesmo grupo de Iugoslávia e Grécia. Israel foi o saco de pancadas. Perdeu todos os jogos e nem gols marcou. Já a Iugoslávia venceu todos os jogos pelo placar mínimo, enquanto a Grécia, com duas vitórias e duas derrotas, ficou no meio do caminho.
É então a vez do grupo dos sulamericanos. Peru (que viria a desistir antes de jogar qualquer jogo), Brasil, Paraguai e Chile disputariam apenas uma vaga. E o Paraguai começa com tudo – vence o Chile em casa e fora, se colocando como um dos sérios postulantes à vaga. O Brasil então enfrenta o Chile em Santiago, vence por 2x0 com dois gols de Baltazar. Em seguida, vence o Paraguai em Assunção por 1x0, também gol de Baltazar. Havia empatado em pontos e tinha mais dois jogos, todos em casa – contra apenas um jogo de Chile e Paraguai. No primeiro deles, em março de 1953, vence o Chile em casa, com gol de – adivinha quem? – sempre ele, Baltazar. Também marca um no próximo jogo, uma vitória de 4x1 contra o Paraguai, num jogo que em nossos vizinhos paraguaios precisavam da vitória para se classificar. No entanto, a vaga foi nossa.
Também havia uma vaga para a América Central e do Norte. México, EUA e Haiti disputaram ela. O Haiti foi muito mal, perdendo todos os jogos, marcando 2 gols e tomando 18. O México ganhou todos os jogos sem dificuldade. 19 gols pró e 1 contra. Os EUA ficaram no meio termo, com 4 pontos contra 8 do México.
A vaga asiática seria decidida entre: República da China (popularmente conhecida por Taiwan), Japão e Coréia do Sul. Taiwan desistiu, enquanto Japão e Coréia do Sul decidiram a vaga no que seria, na prática, um mata-mata. Um jogo tenso, devido a história dos dois países. Na época do imperialismo japonês, o Japão anexou o (então unificado) Império Coreano, resultando num histórico de hostilidades entre os dois povos. Quem levou o melhor foram os sul-coreanos, que apesar de jogarem os dois jogos fora de casa, na capital japonesa Tóquio, venceram por 5x1 e empataram por 2x2.

Com isto, os times classificados seriam: Uruguai, Suíça, Alemanha Ocidental, Bélgica, Inglaterra, Escócia, França, Áustria, Turquia, Hungria, Tchecoslováquia, Itália, Iugoslávia, Brasil, México e Coréia do Sul. 45 inscrições foram feitas. 6 delas foram rejeitadas (Islândia, Bolívia, Costa Rica, Cuba, Vietnã e Índia). 3 times desistiram (Polônia, Peru e Taiwan). Somente a Hungria se classificou sem jogar. 33 times jogaram pelo menos uma partida. 208 gols em 57 jogos, totalizando 3,65 gols por jogo. Foi a primeira que jogaram alguma partida de eliminatórias para: Brasil, Chile, Japão, Paraguai, Protetorado do Sarre e Coréia do Sul.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1950

Este é o terceiro texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934 e o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938. É recomendado que sejam lidos afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados anteriores.
Com o advento da Segunda Guerra Mundial, as Copas de 1942 e 1946 foram canceladas. Apesar da Guerra terminar ainda em 45, se decidiu não realizar em 1946 devido à Europa estar ainda destruída e em situação econômica catastrófica. Para estas eliminatórias, é necessário voltar um pouco na história para entender algumas coisas. A Alemanha após o conflito foi dividida em duas - Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental - e foi proibida de participar do torneio. O Japão, apesar de não ter sido dividido, também foi proibido de participar. Na época da Copa, nenhuma das Alemanhas sequer tinha uma federação de futebol. A campeã da última Copa, Itália, já estava classificada, assim como o Brasil, país sede. 
Outro ponto a se esclarecer é a questão da Irlanda. Apesar de não ser um país independente, em 1882 foi fundada, em Belfast, a IFA - Irish Football Associaton, para representar toda a ilha da Irlanda. No entanto, a Irlanda entra em guerra e busca independência. Consegue, mas parcial. Uma parte do norte da ilha, onde haviam muitos protestantes, decide ficar junto do Reino Unido. Essa parte, hoje chamada de Irlanda do Norte, é chamada em irlandês de Ulster. Com o fim da Guerra de Independência da Irlanda, a parte sul da ilha, chamada no idioma local de Éire, se torna livre do domínio britânico. Este novo país é chamado de Estado Livre da Irlanda, ou alternativamente Irlanda do Sul. Já sendo um país independente, em 1921, em Dublin, capital do Estado Livre da Irlanda, se funda a FAI, Football Association of Ireland, para representar o Eire
Porém, como era um só povo, a IFA, do Ulster, continua convocando jogadores dos irlandeses do Sul, Em 1937, a FAI decide também convocar jogadores do Ulster, na época ainda chamado de Irlanda. Prática esta parada em 1946. No entanto, a IFA, do Ulster, decide continuar convocando jogadores irlandeses do sul (Eire) apenas até 1950. Em 1937, o Estado Livre da Irlanda muda seu nome para República da Irlanda, enquanto a parte britânica também se chama Irlanda, fato que pode causar grande confusão. A porção britânica da ilha só passaria a se chamar Irlanda do Norte em 1954.Por que toda essa história é importante? A Inglaterra, tal qual o resto das nações britânicas (Ulster, País de Gales e Escócia), não participava das Copas do Mundo por opção própria. Por terem criado o futebol, se acham superiores ao resto dos times e por isso se negavam a disputar a Copa. No entanto, para esta copa, decidem, pela primeira vez, participar.
Era o grupo 1. Inglaterra e as demais nações constituintes jogavam entre si, desde 1883, o British Home Championship, e decidiu que o torneio de 1949-1950 decidiria duas vagas para a fase final da Copa. Com um adendo: os escoceses, representados pelo cartola George Graham, dizendo que só jogariam a Copa se classificados em primeiro. Os ingleses aceitariam a vaga independente da colocação. Então, começa o torneio. Todos jogam entre si, apenas uma vez, em pontos corridos.
No primeiro jogo, a Irlanda (Ulster) recebe os escoceses, que massacram por históricos 8x2, com hat trick (três gols) de Henry Morris. Os galeses recebem os ingleses e perdem por 4x1. Gales enfrenta os escoceses fora de casa, em Glasgow, e perde por 2x0. Uma semana depois, os ingleses recebem os irlandeses em Maine Road, ex-estádio do Manchester City, e goleiam por 9x2, com quatro gols do histórico ídolo do rival dos donos da casa Manchester United, Jack Rowley. Os dois times da frente estão definidos: Escócia e Inglaterra. No entanto, como para os escoceses dependiam da colocação para jogar, apenas os ingleses estão classificados. O País de Gales recebe os irlandeses num jogo não valendo nada, que termina num xoxo 0x0. Chega então o esperado confronto: Escócia e Inglaterra, em Glasgow. Os ingleses, que tinham a vantagem do empate, vencem pelo placar mínimo com gol de Bentley e ficam em primeiro lugar. O capitão inglês, Billy Wright encoraja o capitão escocês, George Young, a tentar clamar para a federação escocesa de futebol aceitar a segunda vaga, porém não adiantou e temos a Inglaterra como classificada, pela primeira vez.
No segundo grupo, temos Turquia e Síria se enfrentando num sistema de ida-e-volta, porém só um passaria para a segunda fase do grupo. A Turquia, na ida, em Ankara, faz incríveis 7x0 e a Síria desiste. A Turquia se classifica para jogar com a Áustria, que desiste. A Turquia está classificada, porém devido ao alto custo da viagem para o Brasil, também desiste.
O terceiro grupo é composto de Israel, Iugoslávia e França. Mesmo esquema do segundo grupo: Israel e Iugoslávia na primeira fase. Duas vitórias dos balcânicas, por 6x0 em Belgrado e 5x2 em Tel-Aviv. Em Belgrado, a Iugoslávia recebe os franceses. 1x1. Na volta, em Paris, mesmo resultado, levando a um jogo desempate, em Florença. Aí, acontece um dos grandes jogos da história eliminatórias. Mihajlovic abre o placar. Um minuto depois, Walter empata para os franceses. Aos 38 do segundo tempo, Luciano vira o placar para os franceses e a classificação parece certa. Novamente um minuto depois, MIhajlovic empata. Na prorrogação, aos 9 do segundo tempo, com gol de Cajkovski, os balcânicos se classificam. Lembra que a Escócia, no primeiro grupo, ganhou uma vaga mas desistiu? A FIFA convidou os franceses, que aceitaram, porém depois desaceitaram.
No grupo 4, mesmo esquema. Suíça e Luxemburgo disputam entre si para ver quem enfrentaria a Bélgica, valendo a vaga. Duas vitórias suíças, por 5x2 em casa e 3x2 fora. No entanto, a Bélgica desiste de disputar, dando a vaga para os suíços.
Já o quinto grupo era diferente. Nele competiam Irlanda (do Sul, ou Eire), Suécia e Finlândia. Valia uma vaga só. A Suécia começa vencendo os irlandeses por 3x1, que no próximo jogo vencem os finlandeses por 3x0. Os suecos vencem os vizinhos finlandeses por incríveis 8x1, sempre vitórias do time da casa, até Finlândia e Irlanda empatarem em 1x1 em Helsinki, o que acarreta uma desistência dos finlandeses, ainda podendo ficar líder com uma vitória, os irlandeses tomam 3x1 dos suecos - que acabariam no quadrangular final da Copa - em Dublin e são eliminados. No entanto, são convidados para participarem do campeonato e recusam.
Temos um clássico ibérico valendo uma vaga no grupo 6. A Espanha, de Telmo Zarra, goleia os vizinhos lusos por 5x1 em Madrid. Em Lisboa, sai na frente - com gol de Zarra - mas Travessos e Correia viram o placar, animando os lusos. Porém, aos 37 do segundo tempo, Gaínza empata e acaba com o sonho luso de classificação. Este sonho, no entanto, viria a reacender. No segundo grupo, em que Turquia e Áustria se retiraram, sobrou uma vaga. Esta é oferecida aos portugueses, que, no entanto, recusam a mesma.
O primeiro grupo dos sulamericanos continha Argentina, Bolívia e Chile. Os argentinos desistem por causa de uma briga com a CBD (precursora da CBF), e como o regulamento previa duas vagas, Bolívia e Chile se classificaram automaticamente. O segundo grupo de sulamericanos viria a ser a mesma coisa, porém com Equador e Peru desistindo, portanto Uruguai (spoiler: futuro campeão da Copa) e Paraguai se classificando sem nem jogar.
Já no grupo relativo à América do Norte, houve algo semelhante com o grupo dos times britânicos. Aproveitou que estava sendo disputado o campeonato da NAFC (confederação de futebol que ao se fundir com a CCCF, confederação da América Central, formaria a CONCACAF em 1961) e foi declarado que o vencedor iria para a fase final da Copa. O México, clube da casa (o torneio era realizado todo no México) vence todos os jogos contra EUA e Cuba e passa de fase. Os EUA, ao empataram uma e ganharem a outra, ficam em segundo e são convidados a participar devido ao baixo número de times participantes devido a desistências.
O último grupo era o asiático, e nele aconteceu uma situação que até hoje gera uma lenda urbana. A Índia enfrentaria a Birmânia (hoje Myanmar) para disputar uma vaga com Indonésia e Filipinas. Porém os birmaneses desistiram. A Índia recebe a vaga na segunda fase, no entanto Indonésia e Filipinas desistem e a Índia fica com a vaga. Por motivos econômicos e de valorização das Olimpíadas em prejuízo da Copa, a Índia desiste da vaga. Até hoje existe a lenda urbana que a Índia desistiu por não poder jogar descalça. Havia sim uma regra - como ainda há - da FIFA proibindo os times de jogarem descalços, a Índia jogou as Olimpíadas descalça e a FIFA deu de ombros. O capitão indiano, Sailen Manna, depois afirmou que a proibição de jogarem descalços não foi um dos motivos para desistirem da vaga, porém o mito continua. 
Com isto, são classificados para a Copa: Brasil, México, Suíça, Iugoslávia, Inglaterra, Chile, Espanha, EUA, Itália, Paraguai, Suécia, Uruguai e Bolívia. Se torna uma das menores copas da história, com apenas 13 times, tal qual em 1930, na primeira edição. 34 inscrições foram feitas. Nenhuma foi rejeitada. 9 times desistiram: Áustria, Bélgica, Argentina, Equador, Peru, Birmânia, Índia, Indonésia e Filipinas. 4 times se classificaram sem jogar nenuhma partida: Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. 19 equipes jogaram ao menos uma partida. Foram jogados 26 jogos, nos quais foram marcados 121 gols, uma média de 4,65 gols por jogo. Foi a primeira vez que Inglaterra, Israel, Irlanda do Norte, Escócia, Sìria, Turquia e País de Gales participam de jogos em eliminatórias de Copas.