Já estamos no sexto texto sobre as
eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas, esta será a primeira parte. O primeiro, que pode ser
acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934, o segundo, que você
vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que
você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil, o
quarto, que está aqui é sobra a Copa de 1954, na
Suíça. Sobre a Copa de 1958, a primeira vencida pelo Brasil, este link vai te redirecionar para o texto
correto. É recomendado que sejam lidos todos os textos anteriores afim de
melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Em 1962, a polêmica começa na definição
do país sede. Após duas Copas seguidas serem realizadas na Europa (Suíça e
Suécia, respectivamente), os americanos se revoltam e exigem que a Copa ou
seria realizada na América do Sul ou não teria participação de americanos. A
candidata favorita a sediar era a Argentina, que tinha um sonho antigo de ser
anfitriã da competição. No entanto, o Chile aparece como candidato também, e
acaba ganhando na eleição por 32 a 13, com 13 abstenções. Portanto o Chile é o
segundo classificado (o primeiro é o Brasil, campeão da edição anterior.
Outro ponto que precisa ser entendido
para a melhor compreensão do torneio é sobre a África. Quem tiver lido as
postagens anteriores sobre as eliminatórias, pode ver que a África sempre teve
muitos poucos representantes disputando as eliminatórias. No entanto, hoje a
África conta com várias dezenas de países. Por que isto? A resposta é bem simples:
praticamente não haviam países africanos independentes, o período de
descolonização ainda estava engatinhando. Porém, isto começa a mudar na década
de 50.
Até a Copa de 1958, havia apenas 9
países africanos independentes: Libéria, África do Sul, Egito, Etiópia, Líbia,
Sudão, Tunísia, Marrocos e Gana. Após a Copa de 1958, revoluções e movimentos
de independência pipocam no continente todo. Entre a Copa de 1962 e a anterior,
ficam independentes: Guiné, Camarões, Togo, Mali, Senegal, República Malagasy (que
viria a se tornar Madagascar), República do Congo (o antigo Congo Belga, que
viria a se tornar Zaire e hoje se chama República Democrática do Congo),
Somália, República do Dahoney (hoje chamado de Benin), Niger, República de
Upper Volta (hoje se chama Burkina Faso), Costa do Marfim, Chade, República
Centro Africana, República do Congo (de possessão francesa, hoje tem o mesmo
nome), Gabão, Nigéria, Mauritânia, Serra Leoa e Tanganyka (que viria a se unir
com a ilha de Zanzibar, onde nasceu o ex-cantor do Queen Freddie Mercury, para
formar a Tanzânia. 20 países formados em apenas 4 anos. Com o passar do tempo,
viriam a ser cada vez mais países disputando as eliminatórias por vagas na fase
final da competição.
As eliminatórias europeias foram
divididas em 10 grupos. O grupo 1, que continha as duas anfitriãs das Copas
anteriores (Suíça e Suécia) e a Bélgica, tinha como regulamento todos jogando
entre si em ida e volta, valendo uma só vaga para a fase final. O grupo é
aberto pela Suécia vencendo a Bélgica em Estocolmo por 2x0. Seguem duas
derrotas belgas para a Suíça, eliminando a equipe de Claessen e Van Himst. Os
suecos goleiam os suíços por 4x0, empatando em pontos. Novamente, os
escandinavos vencem, desta vez a já eliminada Bélgica em Bruxelas.
O jogo programado para ser o jogo final
foi no domingo de 29 de outubro de 1961, em Berna, Suíça, contra a Suécia. Os
donos da casa precisavam vencer para passar de fase, com os suecos bastando um
empate. E os escandinavos saem na frente, com gol de Simonsson, que marcou
contra o Brasil na final da Copa anterior. Isto aconteceu logo cedo, aos 2
minutos, com o histórico jogador suíço Charles Antenen empatando 6 minutos
depois. Muitos minutos de jogo tenso, até, aos 23 do segundo tempo, Wüthrich
virar o jogo. Aos 34 do segundo tempo, Ingve Brodd, artilheiro sueco nas
eliminatórias, a época jogando no clube francês, Toulouse, faz gol e empata,
dando momentaneamente a vaga para os suecos. Mas aos 36 do segundo tempo, o
franco-suíço Norbert Eschmann marca, dando a vitória para os suíços, o que
causaria empata em pontos e a necessidade de um jogo desempate. Duas semanas
depois, se enfrentam na então Berlim Ocidental valendo a vaga. Brodd inaugurou
o placar do jogo mas no segundo tempo Schneiter e Antenen, até hoje herói suíço,
viram o placar da partida e garantem a vaga, para a festa da torcida em Berna,
Zurique e demais localidades.
O grupo 2 tinha as mesmas regras, porém
seus participantes eram França, a fraca Finlândia e a Bulgária. Dos 4 primeiros
jogos do grupo, 3 envolviam a França (que venceu todos), que tinha da Copa
anterior Piantoni entre outros e 3 envolviam a Finlândia (que perdeu todos e
foi eliminada). Os búlgaros, que tinham vencido os finlandeses e perdido para
os franceses, vencem novamente os finlandeses e partem para o jogo final em
Sofia, precisando vencer, contra os então líderes franceses. Para os francos
bastava um empate, que ocorria até os 44 do segundo tempo. Então o búlgaro
Iliev, que já havia marcado um gol nas eliminatórias, contra a Finlândia, em Helsinki
desempata – garantindo a vitória búlgara e um jogo desempate. Este seria
realizado em Milão, na Itália. Nele, o búlgaro Yakimov, que recebe a bola na
frente da área, manda um chute forte que bate na trave direita do goleiro e
entra. Yakimov, ídolo de infância do maior jogador búlgaro da história,
Stoichkov, é até hoje considerado entre os búlgaros “O Poeta do Futebol” por
este gol e pela sua participação decisiva no gol que levaria os búlgaros para a
Copa em 1966.
Já o terceiro grupo foi bem menos disputado.
Havia nele as insossas Irlanda do Norte, que apesar de ainda ter Blanchflower,
Gregg e McParland não era mais o mesmo time de outrora, Grécia e a forte
Alemanha Ocidental, que contava com um já relativamente famoso Uwe Seeler e com
os jovens Helmut Haller e Karl-Heinz Schnellinger. Esses dois últimos, por
motivos diferentes, acabariam por escrever seus nomes na história do futebol
mundial. Dentro de campo, a Alemanha não teve dificuldade. Estreou com duas
vitórias fora de casa, 4x3 contra a Irlanda do Norte e 3x0 contra a Grécia. Nos
dois jogos, quem marcou 3 gols foi o então atacante do Hamburgo, Gert Dörfel.
Segue abaixo uma foto dele para melhor identificação:
|
Gert Dörfel |
Sim. Esse mesmo. Depois de se
aposentar como jogador de futebol, Dörfel virou palhaço no famoso Circus Krone,
um dos maiores circos da Europa. Após estes dois jogos, a Grécia vence os
irlandeses por 2x1 com dois gols de Papaemmanouil e se mantém viva. Os irlandeses
então visitam os alemães, precisando vencer para ter chance de se classificar,
no entanto perdem novamente por 2x1, sendo eliminados. Os gregos, que
precisavam vencer para se manter na disputa, visitam os já eliminados e perdem,
selando a classificação alemã. Os gregos ainda jogam, somente para cumprir
tabela, um jogo contra a Alemanha Ocidental em Augsburg, em que brilha a
estrela de Uwe Seeler, que marca dois gols e garante 100% de aproveitamento
para os alemães.
No grupo 4, que tinha o mesmo regulamento,
participavam Hungria, Holanda e Alemanha Oriental. A grande favorita era a
Hungria, que além de ainda ter o goleiro Grosics dos Magiares Mágicos, tinha o
já veterano Károly Sandor, Lajos Tichy em grande fase e estava surgindo na
seleção o jovem Flórián Albert, que viria a se tornar o maior jogador húngaro
pós-54. Os húngaros começaram vencendo os alemães orientais em Budapeste e em
seguida os holandeses em Roterdã, praticamente selando a classificação. Os
alemães orientais empatam em casa com os holandeses para depois perderem em
casa para os húngaros, que se classificam. Em 1 de outubro de 1961, deveria
acontecer Holanda x Alemanha Oriental na Holanda, porém os alemães foram
proibidos de entrar no país devido a problemas com visto. Como os húngaros já
estavam classificados, o jogo, que não valeria nada, não foi remarcado. O
último jogo do grupo, para cumprir tabela, foi um eletrizante Hungria 3x3
Holanda em Budapeste.
Grupo 5: mesmo regulamento dos
anteriores, porém com a União Soviética, Turquia e Noruega. O resultado foi um
massacre soviético, com tinha em seu escrete o grande Valery Voronin: 4
vitórias em 4 jogos, com 8 gols de saldo. Os turcos conseguem vencer as duas
contra os noruegueses, que são eliminados sem um ponto sequer.
O sexto grupo, que também tinha o mesmo
formato e regras dos anteriores, tinha Inglaterra, de Bobby Charlton, Jimmy
Greaves, Ray Wilson e Bobby Robson, Portugal, de José Águas, o grande Mário
Coluna e o gigante Eusébio, que viria a ser artilheiro da Copa de 1966 e um dos
maiores jogadores da história, todos treinados pelo lendário Peyroteo (apenas
nos dois últimos jogos). Peyroteo se tornou famoso no fim da década de 30 e na
década de 40 por ser o grande craque do clube português Sporting. Durante seu
período no clube, Peyroteo teve a incrível média de 1,61 gols por jogo. Marcou
531 gols em 328 jogos. Tudo começa normal: Luxemburgo sendo Luxemburgo e só
perdendo. Toma 9x0 em casa, com hat trick de Greaves e de Charlton, para depois
perder para Portugal por 6x0 em Lisboa. No jogo mais esperado, Portugal e
Inglaterra em Lisboa, 1x1 com gols de Águas para os lusos e Flowers para os
britânicos. Os britânicos seguem para Londres, onde vencem os luxemburgueses
por 4x1.
Então chega a vez de Portugal enfrentar
Luxemburgo como visitante. Jogo que entraria para a história por 2 motivos: o
primeiro, foi o primeiro jogo de Eusébio com a camisa da seleção portuguesa,
inclusive tendo marcado um gol. Segundo motivo: o esperado era um massacre
português. Porém, dentro de campo não foi bem assim. O até então desconhecido
meia luxemburguês Ady Schmit, do clube local Fola Esch, comanda a vitória do
país natal por históricos 4x2, primeira vitória da seleção local em Copas.
Perplexos e já eliminados, os lusos perdem para os ingleses por 2x0 em Londres,
num jogo apenas para cumprir tabela.
O próximo grupo era diferente de todos:
contava com 5 times, e apesar de fazer parte das eliminatórios europeias havia
times da Europa, Ásia e África. Começa numa fase preliminar: se enfrentam, em
ida e volta, Israel e Chipre. O vencedor pegaria a Etiópia, que foi autorizada
a jogar as eliminatórias pelo Europa. O vencedor deste segundo confronto
enfrentaria o vencedor de Romênia x Itália. Os dois times vencedores fariam uma
final entre si. Israel empata com o Chipre em 1x1 em Nicósia e na volta, em
Tel-Aviv, comandada por Shlomo Levi, autor de um hat trick, goleia por 6x1 e
garante sua disputa contra a Etiópia. Quem se destaca contra os africanos é
Yehoshua Glazer, que marca o gol único da partida de ida e mais dois no 3x2
para os israelenses na volta – ambas as partidas jogadas em solo israelense.
No outro lado das “semifinais”, não
houve jogo, pois, a Romênia desistiu, com a Itália avançando para a final
contra Israel. O elenco italiano contava com um campeão do mundo: José
Altafini, vulgo Mazzola, campeão da Copa do Mundo de 1958 pelo Brasil. O
apelido Mazzola era por causa da semelhança física com o cérebro do grande time
do Torino nos anos 40, Valentino Mazzola. Contava com outro grande craque
naturalizado: Omar Sívori. Argentino de nascimento, fez sucesso no país natal
pelo River Plate e daí rumou para a Juventus da Itália, clube do qual se tornou
um dos maiores ídolos. Também contava com outros jogadores de destaque:
Giovanni Trapattoni, que viria a ser grande ídolo do Milan e um dos maiores
técnicos da história da Juventus, do futebol italiano e do futebol mundial,
Cesare Maldini, grande zagueiro da história do Milan e pai do ídolo italiano
Paolo Maldini, além do goleiro Buffon. Este é Lorenzo Buffon, primo do avô do
atual goleiro Gianluigi Buffon. Com todos esses grandes jogadores, o esperado
era uma vitória italiano. E ela veio.
Em Tel-Aviv, na ida, os
Israelenses vão para o intervalo com uma vantagem de 2 gols, marcados por
Stelmach e Young. Aos 8 minutos da segunda etapa Lojacono diminui de pênalti.
Mazzola empata aos 34 do segundo. Aos 42, Corso vira a partida e o mesmo Corso
marca o quarto gol aos 45 do segundo tempo. Na volta, em Turim, no estádio
Olímpico, casa do Torino (apesar do estádio ser municipal), a Itália goleia por
6x0, comandada por Omar Sívori, ídolo dos rivais dos donos da casa, que marcou
4 gols e selou a classificação italiana para Copa.
De volta ao formato
antigo: 3 times, uma vaga, ida e volta. Desta vez, a vaga era disputada por
Irlanda, Escócia e Tchecoslováquia. Os irlandeses, sem muitos destaques, sofrem
duas pesadas derrotas para a Escócia – 4x1 em Glasgow e 3x0 em Dublin – e ficam
quase eliminados. Dentre os destaques escoceses, estava Denis Law, então
jogador do Torino, depois vindo a fazer muito sucesso no Manchester United. No
primeiro jogo entre os tchecoslovacos e escoceses, em Bratislava, os donos da
casa goleiam os britânicos por 4x0, dando esperança para os irlandeses. Não foi
uma derrota a toa, os tchecoslovacos contavam com seu maior time da história,
com jogadores como o goleiro Schrojf, os defensores Tichý, Pluskal, Popluhár,
Scherer no ataque e no meio o que viria a ser o melhor jogador da Europa: Josef
Masopust.
A volta, em Glasgow, foi numa terça, 26
de setembro de 1961. 51590 pessoas compareceram ao estádio para prestigiar o
que viria a ser um jogão de bola. Kvašňák
abre o placar para os então comunistas tchecoslovacos, Ian St. John, atacante
do Liverpool, empata para os escoceses. Aos 6 do segundo tempo, Scherer deixa
os visitantes novamente na frente. A Irlanda, que precisava de uma derrota de
seus vizinhos britânicos para ter chances de seguir, comemora. No entanto,
brilhou a estrela do craque: Denis Law. 11 minutos depois de ver seu time
começar a perder, ele empata a partida. E novamente, desta vez faltando 7
minutos para o fim do jogo, marca. Dá a vitória para os escoceses. Este
resultado elimina os irlandeses. E força os eslavos a ganharem as duas partidas
contra os já eliminados para terem chance de disputar a fase final da Copa. E é
o que acontece: comandados por Kvašňák e Scherer, vencem por 3x1 em Dublin e
massacram em Praga: 7x1 (foi pouco).
Como houve empate em
pontos, a decisão partiu para o jogo desempate em campo neutro. Seria no
estádio Rei Bauduíno (popularmente conhecido como Estádio de Heysel), em
Bruxelas. Acabaria por ser outro jogo para entrar na história. Quem saiu na
frente foram, desta vez, os escoceses. Ian St. John, pouco antes do intervalo,
deixa o seu. Tudo segue igual até os 25 minutos do segundo tempo, quando Hledík
empata. Nem deu tempo da torcida eslava comemorar, um minuto depois, St. John
faz 2x1. O jogo pega fogo. 9 minutos depois, aos 35, Scherer empata. Temos
prorrogação. Aos 6 minutos do primeiro tempo dela, Pospíchal põe os
tchecoslovacos na frente. 5 minutos depois, Kvašňák deixa o seu. Após minutos
de muita pressão, o jogo termina. A vaga é da Tchecoslováquia.