sábado, 9 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1938


Este é o segundo texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934 e é recomendado que seja lido afim de melhor entender o torneio, seu contexto histórico e resultados anteriores.
Após a Copa de 1934 ser um sucesso, surgem muitos interessados para a Copa de 1938. Porém, haveria algo que faria muitos times desistirem: a Copa foi criada com o objetivo de a sede ser revezada entre a América do Sul e da Europa, ainda não que oficialmente, mas num acordo de cavalheiros. Após a edição de 1930 ser no Uruguai e a de 1934 ser na Itália, era parte do acordo voltar à América do Sul. No entanto, Jules Rimet, fundador da Copa, convence a FIFA a sediar o evento no seu país natal, a França, gerando a ira de muitos países americanos que em protesto desistem de jogar, como Argentina, Chile, Paraguai, Peru, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, México, Uruguai, EUA e Guiana Holandesa, então colônia da Holanda, que depois de independente viria se tornar o Suriname.
O primeiro grupo era da Europa e continha 4 países: a Alemanha, então governada pelos nazis (fato que iria mudar a história da competição depois), a Suécia, a Estônia e a Finlândia. Todos os times jogariam entre si uma vez cada e os dois melhores passavam de fase. A Suécia começa com duas goleadas em casa: 4x0 na Finlândia e 7x2 na Estônia. Foi a vez da Finlândia jogar em casa: duas derrotas, por 2x0 para a Alemanha e 1x0 para a Estônia. Com isto, a Finlândia já estava eliminada. Eram três times disputando duas vagas. Alemanha e Estônia se enfrentam em Königsberg, que hoje é Kaliningrado e faz parte de um enclave russo entre a Polônia e a Lituânia. Os alemães goleiam por 4x1 e temos os dois classificados: Alemanha e Suécia. Disputam o jogo valendo a liderança do grupo, conquistada pelos alemães após um 5x0.
Já no segundo grupo foram dois jogaços: Estado Livre da Irlanda e Noruega definiriam, em ida e volta, um vencedor. Em Oslo, Kvammen abre o placar, Geoghegan e Dunne viram a partida para depois Kvammen novamente empatar e Martinsen marcar o gol da virada norueguesa. Em Dublin, na volta, Dunne abre o placar para a Noruega fazer 3x1 com dois gols de Kvammen. Porém a Irlanda consegue um empate heróico aos 43 do segundo tempo, botando fogo no jogo, mas não passou de um 3x3, confirmando a vaga para os escandinavos.
No próximo grupo temos o mesmo formato e regras, porém se enfrentam Polônia e Iugoslávia. Massacre polonês por 4x0 em Varsóvia contra uma derrota pelo placar mínimo em Belgrado, dando à Polônia de Wilimovski a vaga.
Quarto grupo, temos uma situação curiosa: devem se enfrentar Egito e Romênia, também ida e volta. O jogo de ida seria em dezembro de 1937, que segundo a tradição muçulmana, é o mês do Ramadã, no qual os islâmicos, religião maioritária no Egito, fazem uma espécie de jejum, o que enfraqueceria muito os jogadores, tornando impossível um jogo a nível competitivo contra os romenos. Então os egípcios resolvem convidar o mais antigo clube austríaco para um amistoso: o First Vienna FC. A FIFA então decide punir os egípcios e os elimina da competição, dando a vaga para os romenos.
No quinto grupo o regulamento muda, são duas fases. Portugal e URSS se enfrentariam em ida e volta, sendo que o vencedor enfrentaria a Suíça valendo a vaga, num jogo único. Os soviéticos desistiram da vaga, então Portugal partiu direto para o jogo com os suíços. Perdeu por 2x1 com o gol de honra marcado pelo lendário Peyróteo, grande ídolo do clube português Sporting.
O próximo grupo, o sexto, tinha o mesmo regulamento. Grécia e Mandato Britânico da Palestina jogaram valendo a vaga na segunda fase, com duas vitórias helênicas. Os gregos jogaram então contra a Hungria em Budapeste. Foram trucidados por 11x1 com 5 gols de Zsengellér e a vaga ficou com os magiáres.
No sétimo grupo haviam apenas dois times e uma vaga. Búlgaros e tchecoslovacos se enfrentaram primeiro em Sofia, com empate por 1x1 com o gol búlgaro sendo marcado apenas em 44 do segundo tempo. Na volta, em Praga, massacre tchecoslovaco por 6x0 com 2 gols do craque Nejedly, que seria depois artilheiro da Copa.
Um clássico báltico no grupo 8: Letônia vence a Lituânia fora e em casa, com 9x3 no agregado e 5 gols de Kaneps. Porém o regulamento era igual ao do grupo 5 e 6. Os letões enfrentaram a Áustria em Viena e perderam de virada, dando a vaga os germânicos. No entanto, 5 meses depois, a Alemanha Nazi na sua política pan-germanista nacionalista anexa a Áustria, episódio chamado hoje de Anschluss em alemão. A Áustria tinha sido um dos melhores times da Copa de 1934 e contava com grandes jogadores. O grande craque austríaco Mathias Sindelar, no entanto, se recusa a jogar pela seleção alemã - agora ele era alemão - e pouco tempo depois tem uma morte misteriosa, que embora atribuída a envenenamento acidental por monóxido de carbono até hoje há quem defenda que ele foi morto pelo regime nazi.
O nono grupo também segue critérios geográficos e fica com os 3 times do Benelux - Bélgica, Holanda e Luxemburgo - mais a Dinamarca, que desiste de jogar. Todos contra todos apenas uma vez. Luxemburgo segue sendo o saco de pancadas e perde os dois jogos, com a Holanda - até então uma nanica no futebol - passa em primeiro colocado com a Bélgica levando a segunda vaga.
No décimo grupo, que contava com Brasil e Argentina, os brasileiros não precisaram jogar para passar de fase, visto a desistência argentina.
Já a vaga norte e centro-americana, foi uma confusão. Um dos grupos havia México e EUA, como o México desistiu, os EUA passaram para pegar o vencedor do grupo asiático. Porém, além da questão do acordo de cavalheiros, havia uma questão econômica. Os EUA esperavam financiar a viagem à Copa do Mundo com o dinheiro da renda de um jogo contra a Inglaterra, porém os ingleses se recusaram a jogar num domingo e com isso os EUA desistem. Porém, a então Guiana Holandesa, Cuba, Colômbia, El Salvador e Costa Rica ainda estão na disputa por uma vaga. A Guiana Holandesa, por não responder uma correspondência oficial, foi eliminada, sendo planejado um quadrangular com os times restantes. A Guiana Holandesa protesta e consegue sua vaga de volta, porém Colômbia e El Salvador desistem.
Sobram Guiana Holandesa, Cuba e Costa Rica. A Guiana Holandesa desiste também por motivos econômicos e pede para jogar contra o vencedor do grupo asiático, como a FIFA havia sugerido com os EUA, porém a FIFA não atende à solicitação. Depois, a Costa Rica desta vez desiste e só sobra Cuba. Lembra que no começo disse que a Argentina tinha desistido? Bem, eles des-desistiram e ficaram de enfrentar Cuba para decidir a vaga. Como os argentinos queriam uma vaga direta, novamente desistiram (confuso, não?) e Cuba se classificou sem nem jogar uma partida.
Para a vaga asiática também houve desistências. As Índias Orientais Holandesas (que depois viriam a ser independentes e formar a Indonésia) ficaram no grupo de Austrália, China, Nova Zelândia, Filipinas e Japão. Todos estes citados (menos Japão e Índias Orientais) desistiram, ficando marcado um jogo entre Japão e futura Indonésia em Saigon, no Vietnã (hoje chamada de Cidade de Ho Chi Mihn, líder socialista vietnamita e herói da Guerra de Independência contra os franceses e da Guerra do Vietña contra os americanos) porém o Japão também resolve desistir, pois está ocupado em guerra contra a China. As Índias Orientais são programadas para jogar com os EUA, como já explicado, porém com a desistência dos mesmos elas conseguem sua vaga direta na Copa.
Os classificados são: Áustria, Bélgica, Brasil, Cuba, Tchecoslováquia, Índias Orientais Holandesas, Alemanha, Hungria, Holanda, Noruega, Polônia, Romênia e Suíça, que se juntam a França e Itália, classificadas automaticamente por serem país sede e país campeão, respectivamente. Com a Anschluss, a Áustria é incorporada à Alemanha e a Copa fica, excepcionalmente, com apenas 15 participantes. 37 inscrições foram feitas.
Apenas uma foi rejeitada, da Espanha, por estar envolvida numa guerra civil. 9 times desistiram: Egito, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Guiana Holandesa, El Salvador, México, EUA e Japão. 4 times se classificaram sem jogar nenhuma partida: Romênia, Brasil, Cuba e Índias Orientais Holandeses. 21 times jogaram ao menos 1 partida. 22 partidas aconteceram, nelas acontecendo 96 gols. Uma média de 4,36 gols por jogo. Foi a primeira vez de Finlândia, Letônia e Noruega participarem de eliminatórias de Copas.

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