Este é o segundo texto sobre as
eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser
acessando clicando aqui, é sobre a Copa de
1934 e é recomendado que seja lido afim de melhor entender o torneio, seu
contexto histórico e resultados anteriores.
Após a Copa de 1934
ser um sucesso, surgem muitos interessados para a Copa de 1938. Porém, haveria
algo que faria muitos times desistirem: a Copa foi criada com o objetivo de a
sede ser revezada entre a América do Sul e da Europa, ainda não que
oficialmente, mas num acordo de cavalheiros. Após a edição de 1930 ser no
Uruguai e a de 1934 ser na Itália, era parte do acordo voltar à América do Sul.
No entanto, Jules Rimet, fundador da Copa, convence a FIFA a sediar o evento no
seu país natal, a França, gerando a ira de muitos países americanos que em
protesto desistem de jogar, como Argentina, Chile, Paraguai, Peru, Colômbia,
Costa Rica, El Salvador, México, Uruguai, EUA e Guiana Holandesa, então colônia
da Holanda, que depois de independente viria se tornar o Suriname.
O primeiro grupo era
da Europa e continha 4 países: a Alemanha, então governada pelos nazis (fato
que iria mudar a história da competição depois), a Suécia, a Estônia e a
Finlândia. Todos os times jogariam entre si uma vez cada e os dois melhores passavam
de fase. A Suécia começa com duas goleadas em casa: 4x0 na Finlândia e 7x2 na
Estônia. Foi a vez da Finlândia jogar em casa: duas derrotas, por 2x0 para a
Alemanha e 1x0 para a Estônia. Com isto, a Finlândia já estava eliminada. Eram
três times disputando duas vagas. Alemanha e Estônia se enfrentam em
Königsberg, que hoje é Kaliningrado e faz parte de um enclave russo entre a
Polônia e a Lituânia. Os alemães goleiam por 4x1 e temos os dois classificados:
Alemanha e Suécia. Disputam o jogo valendo a liderança do grupo, conquistada
pelos alemães após um 5x0.
Já no segundo grupo
foram dois jogaços: Estado Livre da Irlanda e Noruega definiriam, em ida e
volta, um vencedor. Em Oslo, Kvammen abre o placar, Geoghegan e Dunne viram a
partida para depois Kvammen novamente empatar e Martinsen marcar o gol da
virada norueguesa. Em Dublin, na volta, Dunne abre o placar para a Noruega
fazer 3x1 com dois gols de Kvammen. Porém a Irlanda consegue um empate heróico
aos 43 do segundo tempo, botando fogo no jogo, mas não passou de um 3x3,
confirmando a vaga para os escandinavos.
No próximo grupo temos
o mesmo formato e regras, porém se enfrentam Polônia e Iugoslávia. Massacre
polonês por 4x0 em Varsóvia contra uma derrota pelo placar mínimo em Belgrado,
dando à Polônia de Wilimovski a vaga.
Quarto grupo, temos
uma situação curiosa: devem se enfrentar Egito e Romênia, também ida e volta. O
jogo de ida seria em dezembro de 1937, que segundo a tradição muçulmana, é o
mês do Ramadã, no qual os islâmicos, religião maioritária no Egito, fazem uma
espécie de jejum, o que enfraqueceria muito os jogadores, tornando impossível
um jogo a nível competitivo contra os romenos. Então os egípcios resolvem
convidar o mais antigo clube austríaco para um amistoso: o First Vienna FC. A
FIFA então decide punir os egípcios e os elimina da competição, dando a vaga
para os romenos.
No quinto grupo o
regulamento muda, são duas fases. Portugal e URSS se enfrentariam em ida e
volta, sendo que o vencedor enfrentaria a Suíça valendo a vaga, num jogo único.
Os soviéticos desistiram da vaga, então Portugal partiu direto para o jogo com
os suíços. Perdeu por 2x1 com o gol de honra marcado pelo lendário Peyróteo,
grande ídolo do clube português Sporting.
O próximo grupo, o
sexto, tinha o mesmo regulamento. Grécia e Mandato Britânico da Palestina
jogaram valendo a vaga na segunda fase, com duas vitórias helênicas. Os gregos
jogaram então contra a Hungria em Budapeste. Foram trucidados por 11x1 com 5
gols de Zsengellér e a vaga ficou com os magiáres.
No sétimo grupo haviam
apenas dois times e uma vaga. Búlgaros e tchecoslovacos se enfrentaram primeiro
em Sofia, com empate por 1x1 com o gol búlgaro sendo marcado apenas em 44 do
segundo tempo. Na volta, em Praga, massacre tchecoslovaco por 6x0 com 2 gols do
craque Nejedly, que seria depois artilheiro da Copa.
Um clássico báltico no
grupo 8: Letônia vence a Lituânia fora e em casa, com 9x3 no agregado e 5 gols
de Kaneps. Porém o regulamento era igual ao do grupo 5 e 6. Os letões
enfrentaram a Áustria em Viena e perderam de virada, dando a vaga os
germânicos. No entanto, 5 meses depois, a Alemanha Nazi na sua política
pan-germanista nacionalista anexa a Áustria, episódio chamado hoje de Anschluss em
alemão. A Áustria tinha sido um dos melhores times da Copa de 1934 e contava
com grandes jogadores. O grande craque austríaco Mathias Sindelar, no entanto,
se recusa a jogar pela seleção alemã - agora ele era alemão - e pouco tempo
depois tem uma morte misteriosa, que embora atribuída a envenenamento acidental
por monóxido de carbono até hoje há quem defenda que ele foi morto pelo regime
nazi.
O nono grupo também
segue critérios geográficos e fica com os 3 times do Benelux - Bélgica, Holanda
e Luxemburgo - mais a Dinamarca, que desiste de jogar. Todos contra todos
apenas uma vez. Luxemburgo segue sendo o saco de pancadas e perde os dois
jogos, com a Holanda - até então uma nanica no futebol - passa em primeiro
colocado com a Bélgica levando a segunda vaga.
No décimo grupo, que
contava com Brasil e Argentina, os brasileiros não precisaram jogar para passar
de fase, visto a desistência argentina.
Já a vaga norte e centro-americana, foi uma
confusão. Um dos grupos havia México e EUA, como o México desistiu, os EUA
passaram para pegar o vencedor do grupo asiático. Porém, além da questão do
acordo de cavalheiros, havia uma questão econômica. Os EUA esperavam financiar
a viagem à Copa do Mundo com o dinheiro da renda de um jogo contra a
Inglaterra, porém os ingleses se recusaram a jogar num domingo e com isso os
EUA desistem. Porém, a então Guiana Holandesa, Cuba, Colômbia, El Salvador e
Costa Rica ainda estão na disputa por uma vaga. A Guiana Holandesa, por não
responder uma correspondência oficial, foi eliminada, sendo planejado um
quadrangular com os times restantes. A Guiana Holandesa protesta e consegue sua
vaga de volta, porém Colômbia e El Salvador desistem.
Sobram Guiana
Holandesa, Cuba e Costa Rica. A Guiana Holandesa desiste também por motivos
econômicos e pede para jogar contra o vencedor do grupo asiático, como a FIFA
havia sugerido com os EUA, porém a FIFA não atende à solicitação. Depois, a
Costa Rica desta vez desiste e só sobra Cuba. Lembra que no começo disse que a
Argentina tinha desistido? Bem, eles des-desistiram e ficaram de enfrentar Cuba
para decidir a vaga. Como os argentinos queriam uma vaga direta, novamente
desistiram (confuso, não?) e Cuba se classificou sem nem jogar uma partida.
Para a vaga asiática
também houve desistências. As Índias Orientais Holandesas (que depois viriam a
ser independentes e formar a Indonésia) ficaram no grupo de Austrália, China,
Nova Zelândia, Filipinas e Japão. Todos estes citados (menos Japão e Índias
Orientais) desistiram, ficando marcado um jogo entre Japão e futura Indonésia
em Saigon, no Vietnã (hoje chamada de Cidade de Ho Chi Mihn, líder socialista
vietnamita e herói da Guerra de Independência contra os franceses e da Guerra
do Vietña contra os americanos) porém o Japão também resolve desistir, pois
está ocupado em guerra contra a China. As Índias Orientais são programadas para
jogar com os EUA, como já explicado, porém com a desistência dos mesmos elas
conseguem sua vaga direta na Copa.
Os classificados são:
Áustria, Bélgica, Brasil, Cuba, Tchecoslováquia, Índias Orientais Holandesas,
Alemanha, Hungria, Holanda, Noruega, Polônia, Romênia e Suíça, que se juntam a
França e Itália, classificadas automaticamente por serem país sede e país
campeão, respectivamente. Com a Anschluss, a Áustria é incorporada
à Alemanha e a Copa fica, excepcionalmente, com apenas 15 participantes. 37 inscrições
foram feitas.
Apenas uma foi
rejeitada, da Espanha, por estar envolvida numa guerra civil. 9 times
desistiram: Egito, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Guiana Holandesa, El
Salvador, México, EUA e Japão. 4 times se classificaram sem jogar nenhuma partida:
Romênia, Brasil, Cuba e Índias Orientais Holandeses. 21 times jogaram ao menos
1 partida. 22 partidas aconteceram, nelas acontecendo 96 gols. Uma média de
4,36 gols por jogo. Foi a primeira vez de Finlândia, Letônia e Noruega
participarem de eliminatórias de Copas.
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