Este é o terceiro texto sobre as
eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser
acessando clicando aqui, é sobre a Copa de
1934 e o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938. É
recomendado que sejam lidos afim de melhor entendimento do torneio, seu
contexto histórico e resultados anteriores.
Com o advento da Segunda Guerra Mundial,
as Copas de 1942 e 1946 foram canceladas. Apesar da Guerra terminar ainda em
45, se decidiu não realizar em 1946 devido à Europa estar ainda destruída e em
situação econômica catastrófica. Para estas eliminatórias, é necessário voltar
um pouco na história para entender algumas coisas. A Alemanha após o conflito
foi dividida em duas - Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental - e foi proibida
de participar do torneio. O Japão, apesar de não ter sido dividido, também foi
proibido de participar. Na época da Copa, nenhuma das Alemanhas sequer tinha
uma federação de futebol. A campeã da última Copa, Itália, já estava
classificada, assim como o Brasil, país sede.
Outro ponto a se esclarecer é a questão da
Irlanda. Apesar de não ser um país independente, em 1882 foi fundada, em
Belfast, a IFA - Irish Football Associaton, para representar toda a
ilha da Irlanda. No entanto, a Irlanda entra em guerra e busca independência.
Consegue, mas parcial. Uma parte do norte da ilha, onde haviam muitos protestantes,
decide ficar junto do Reino Unido. Essa parte, hoje chamada de Irlanda do
Norte, é chamada em irlandês de Ulster. Com o fim da Guerra de
Independência da Irlanda, a parte sul da ilha, chamada no idioma local de Éire,
se torna livre do domínio britânico. Este novo país é chamado de Estado Livre
da Irlanda, ou alternativamente Irlanda do Sul. Já sendo um país independente,
em 1921, em Dublin, capital do Estado Livre da Irlanda, se funda a FAI, Football
Association of Ireland, para representar o Eire.
Porém, como era um só povo, a IFA,
do Ulster, continua convocando jogadores dos irlandeses do Sul, Em
1937, a FAI decide também convocar jogadores do Ulster, na época
ainda chamado de Irlanda. Prática esta parada em 1946. No entanto, a IFA,
do Ulster, decide continuar convocando jogadores irlandeses do sul
(Eire) apenas até 1950. Em 1937, o Estado Livre da Irlanda muda seu nome
para República da Irlanda, enquanto a parte britânica também se chama Irlanda,
fato que pode causar grande confusão. A porção britânica da ilha só passaria a
se chamar Irlanda do Norte em 1954.Por que toda essa história é importante? A
Inglaterra, tal qual o resto das nações britânicas (Ulster, País de
Gales e Escócia), não participava das Copas do Mundo por opção própria. Por
terem criado o futebol, se acham superiores ao resto dos times e por isso se
negavam a disputar a Copa. No entanto, para esta copa, decidem, pela primeira
vez, participar.
Era o grupo 1. Inglaterra e as demais
nações constituintes jogavam entre si, desde 1883, o British Home
Championship, e decidiu que o torneio de 1949-1950 decidiria duas vagas
para a fase final da Copa. Com um adendo: os escoceses, representados pelo
cartola George Graham, dizendo que só jogariam a Copa se classificados em
primeiro. Os ingleses aceitariam a vaga independente da colocação. Então,
começa o torneio. Todos jogam entre si, apenas uma vez, em pontos corridos.
No primeiro jogo, a Irlanda (Ulster)
recebe os escoceses, que massacram por históricos 8x2, com hat trick (três
gols) de Henry Morris. Os galeses recebem os ingleses e perdem por 4x1. Gales
enfrenta os escoceses fora de casa, em Glasgow, e perde por 2x0. Uma semana
depois, os ingleses recebem os irlandeses em Maine Road, ex-estádio do
Manchester City, e goleiam por 9x2, com quatro gols do histórico ídolo do rival
dos donos da casa Manchester United, Jack Rowley. Os dois times da frente estão
definidos: Escócia e Inglaterra. No entanto, como para os escoceses dependiam
da colocação para jogar, apenas os ingleses estão classificados. O País de
Gales recebe os irlandeses num jogo não valendo nada, que termina num xoxo 0x0.
Chega então o esperado confronto: Escócia e Inglaterra, em Glasgow. Os
ingleses, que tinham a vantagem do empate, vencem pelo placar mínimo com gol de
Bentley e ficam em primeiro lugar. O capitão inglês, Billy Wright encoraja o
capitão escocês, George Young, a tentar clamar para a federação escocesa de
futebol aceitar a segunda vaga, porém não adiantou e temos a Inglaterra como
classificada, pela primeira vez.
No segundo grupo, temos Turquia e Síria se
enfrentando num sistema de ida-e-volta, porém só um passaria para a segunda
fase do grupo. A Turquia, na ida, em Ankara, faz incríveis 7x0 e a Síria
desiste. A Turquia se classifica para jogar com a Áustria, que desiste. A
Turquia está classificada, porém devido ao alto custo da viagem para o Brasil,
também desiste.
O terceiro grupo é composto de Israel,
Iugoslávia e França. Mesmo esquema do segundo grupo: Israel e Iugoslávia na
primeira fase. Duas vitórias dos balcânicas, por 6x0 em Belgrado e 5x2 em
Tel-Aviv. Em Belgrado, a Iugoslávia recebe os franceses. 1x1. Na volta, em
Paris, mesmo resultado, levando a um jogo desempate, em Florença. Aí, acontece
um dos grandes jogos da história eliminatórias. Mihajlovic abre o placar. Um
minuto depois, Walter empata para os franceses. Aos 38 do segundo tempo,
Luciano vira o placar para os franceses e a classificação parece certa.
Novamente um minuto depois, MIhajlovic empata. Na prorrogação, aos 9 do segundo
tempo, com gol de Cajkovski, os balcânicos se classificam. Lembra que a
Escócia, no primeiro grupo, ganhou uma vaga mas desistiu? A FIFA convidou os
franceses, que aceitaram, porém depois desaceitaram.
No grupo 4, mesmo esquema. Suíça e
Luxemburgo disputam entre si para ver quem enfrentaria a Bélgica, valendo a
vaga. Duas vitórias suíças, por 5x2 em casa e 3x2 fora. No entanto, a Bélgica
desiste de disputar, dando a vaga para os suíços.
Já o quinto grupo era diferente. Nele
competiam Irlanda (do Sul, ou Eire), Suécia e Finlândia. Valia uma
vaga só. A Suécia começa vencendo os irlandeses por 3x1, que no próximo jogo
vencem os finlandeses por 3x0. Os suecos vencem os vizinhos finlandeses por
incríveis 8x1, sempre vitórias do time da casa, até Finlândia e Irlanda
empatarem em 1x1 em Helsinki, o que acarreta uma desistência dos finlandeses, ainda
podendo ficar líder com uma vitória, os irlandeses tomam 3x1 dos suecos - que
acabariam no quadrangular final da Copa - em Dublin e são eliminados. No
entanto, são convidados para participarem do campeonato e recusam.
Temos um clássico ibérico valendo uma vaga
no grupo 6. A Espanha, de Telmo Zarra, goleia os vizinhos lusos por 5x1 em
Madrid. Em Lisboa, sai na frente - com gol de Zarra - mas Travessos e Correia
viram o placar, animando os lusos. Porém, aos 37 do segundo tempo, Gaínza
empata e acaba com o sonho luso de classificação. Este sonho, no entanto, viria
a reacender. No segundo grupo, em que Turquia e Áustria se retiraram, sobrou
uma vaga. Esta é oferecida aos portugueses, que, no entanto, recusam a mesma.
O primeiro grupo dos sulamericanos
continha Argentina, Bolívia e Chile. Os argentinos desistem por causa de uma
briga com a CBD (precursora da CBF), e como o regulamento previa duas vagas,
Bolívia e Chile se classificaram automaticamente. O segundo grupo de
sulamericanos viria a ser a mesma coisa, porém com Equador e Peru desistindo,
portanto Uruguai (spoiler: futuro campeão da Copa) e Paraguai se classificando
sem nem jogar.
Já no grupo relativo à América do Norte,
houve algo semelhante com o grupo dos times britânicos. Aproveitou que estava
sendo disputado o campeonato da NAFC (confederação de futebol que ao se fundir
com a CCCF, confederação da América Central, formaria a CONCACAF em 1961) e foi
declarado que o vencedor iria para a fase final da Copa. O México, clube da
casa (o torneio era realizado todo no México) vence todos os jogos contra EUA e
Cuba e passa de fase. Os EUA, ao empataram uma e ganharem a outra, ficam em segundo
e são convidados a participar devido ao baixo número de times participantes
devido a desistências.
O último grupo era o asiático, e nele
aconteceu uma situação que até hoje gera uma lenda urbana. A Índia enfrentaria
a Birmânia (hoje Myanmar) para disputar uma vaga com Indonésia e Filipinas. Porém
os birmaneses desistiram. A Índia recebe a vaga na segunda fase, no entanto
Indonésia e Filipinas desistem e a Índia fica com a vaga. Por motivos
econômicos e de valorização das Olimpíadas em prejuízo da Copa, a Índia desiste
da vaga. Até hoje existe a lenda urbana que a Índia desistiu por não poder
jogar descalça. Havia sim uma regra - como ainda há - da FIFA proibindo os
times de jogarem descalços, a Índia jogou as Olimpíadas descalça e a FIFA deu
de ombros. O capitão indiano, Sailen Manna, depois afirmou que a proibição de
jogarem descalços não foi um dos motivos para desistirem da vaga, porém o mito
continua.
Com isto, são classificados para a Copa:
Brasil, México, Suíça, Iugoslávia, Inglaterra, Chile, Espanha, EUA, Itália,
Paraguai, Suécia, Uruguai e Bolívia. Se torna uma das menores copas da
história, com apenas 13 times, tal qual em 1930, na primeira edição. 34
inscrições foram feitas. Nenhuma foi rejeitada. 9 times desistiram: Áustria, Bélgica,
Argentina, Equador, Peru, Birmânia, Índia, Indonésia e Filipinas. 4 times se classificaram sem jogar nenuhma partida: Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. 19 equipes
jogaram ao menos uma partida. Foram jogados 26 jogos, nos quais foram marcados
121 gols, uma média de 4,65 gols por jogo. Foi a primeira vez que Inglaterra, Israel, Irlanda do Norte, Escócia, Sìria, Turquia e País de Gales participam de jogos em eliminatórias de Copas.
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