quinta-feira, 21 de maio de 2015

História das Eliminatórias - Copa de 1954

Este é o quarto texto sobre as eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser acessando clicando aqui, é sobre a Copa de 1934, o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil. É recomendado que sejam lidos todos os textos anteriores afim de melhor entendimento do torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Para esta copa, é notada uma organização muito maior, menos times desistindo. Dois times já estavam classificados: a Suíça, país sede, e o Uruguai campeão no famoso Maracanazzo. Os regulamentos de quase todos os grupos são uniformizados, com 3 times por grupo, se enfrentado em ida e volta, cada um valendo uma vaga. 
O primeiro grupo era formado por Alemanha Ocidental (agora com uma federação própria, separada da Alemanha Oriental), Noruega e protetorado do Sarre. Você deve estar se perguntando: Sarre? Quem? Bom, como parte da partição da Alemanha, um pedaço pequeno passou a ser protetorado francês, onde hoje temos o estado do Sarre, cuja capital é Saarbrücken. A Alemanha consegue a vaga, ganhando os dois jogos contra o Sarre, empatando um e ganhando o outro contra a Noruega. O Sarre consegue um segundo lugar, vencendo uma contra a Noruega e empatando a outra. Os escandinavos, pouco tradicionais no futebol, ficam na lanterna sem uma vitória sequer.
O segundo grupo, também feito de maneira política (tentava se separar os países do Bloco Soviético dos demais europeus), contava com Bélgica, Suécia e Finlândia. A Bélgica ficou líder sem grandes dificuldades. Venceu seus dois jogos fora, empatou em casa com a Finlândia e no último jogo, em casa contra os suecos, venceu por 2x0. A Suécia, que estreia levando 3x2 dos belgas, faz 4x0 e 3x3 contra os vizinhos finlandeses (em casa e fora, respescticamente), porém no último jogo, com os belgas, valendo vaga, perde e fica em segundo lugar.
Já relativo às nações britânicas, no grupo 3, foi repetido o critério da edição anterior da Copa, foi aproveitado o British Home Championship. Nele, a Inglaterra é avassaladora. Vitórias de 4x1 contra Gales em Cardiff, 3x1 com a Irlanda do Norte em Liverpool e 4x2 na Escócia em Glasgow. A Escócia fica com o segundo lugar – e decide aceitar a vaga. Estreia com uma importantíssima vitória contra a Irlanda do Norte em Belfast, empata em casa com País de Gales (do Gigante Buono John Charles) num eletrizante 3x3 com um gol salvador do mesmo aos 43 do segundo tempo. É o único ponto dos galeses na competição, que perdem todos os outros jogos. Já os norte-irlandeses conseguem uma vitória de honra contra os galeses, 2x1 em Wrexham, no País de Gales, com dois gols de Peter McParland – um dos maiores senão o maior jogador da história dos irlandeses.
O quarto grupo é composto de França, Irlanda e Luxemburgo. Luxemburgo, como sempre, é o saco de pancadas e perde todos os jogos, marcando um gol e sofrendo 19. A Irlanda vence as duas contra Luxemburgo e perde as duas contra os franceses. Estes, com 100% de aproveitamento, marcam incríveis 20 gols nos seus 4 jogos. Começava a desabrochar o talento dos craques Piantoni, Kopa e Fontaine. O jogo em Paris contra os luxemburgueses é uma sova, 8x0 com hat trick de Fontaine, que na próxima Copa viria a marcar 13 gols em 6 jogos e escrever seu nome na história do futebol.
Já no próximo grupo, o quinto, se enfrentariam a Áustria – que viria a ser um dos grandes times desta edição da Copa – e Portugal. Na ida, em Viena, Probst marca cinco gols e comanda a goleada austríaca – que termina em 9x1, com um gol também dos grandes Ocwrik, Wagner, de Dienst e um de pênalti de Ernst Happel, que depois viria a se tornar um dos maiores treinadores da história do futebol. Na volta, um 0x0 garante os germânicos na Copa.
No sexto grupo houve uma situação curiosíssima: se enfrentariam Espanha e Turquia. Não havia salde de gols, com os espanhóis tendo goleado por 4x1 na ida e perdido por 1x0 na volta, em Istambul. É marcado um jogo extra, em terreno neutro – no caso, o Estádio Olímpico de Roma – que após a Turquia estar vencendo por 2x1 até os 33 do segundo tempo, vira um 2x2 com o gol espanhol de Escudero. Com o empate, como seria decidida a vaga? Sorteio. Isso mesmo, uma vaga na Copa do Mundo sendo decidida por sorteio. Um menino romano de 14 anos chamado Luigi Frango Gemma, cujo pai trabalha no estádio teve seus olhos vendados. Eram dois papéis, um escrito Turquia e um Espanha. O menino pega o da Turquia, que está classificada.
O sétimo grupo continha originalmente Hungria, Polônia e Alemanha Oriental. Em 1953 trabalhadores da construção civil da então Berlim Oriental decidem entrar em greve, e em resposta são duramente reprimidos pela força nacional local, a Volkspolizei e pelas tropas soviéticas. Essa instabilidade faz com que os alemães orientais prefiram não jogar a Copa. Fariam bem. A Polônia acaba desistindo, e a Hungria, vivendo a geração dos Magiáres Mágicos, de Púskas, Kocsis, Czibor, Hidegkuti, Bozsik e Grosics, vinha formando um grande time, invicta desde 1950, nesse meio tempo impondo duas humilhantes vitórias contra os ingleses, que já estavam com o orgulho ferido devido à derrota para o semi-amador time dos EUA na Copa de 1950, acaba se classificando sem jogar. Todos os times do grupo faziam parte do chamado Bloco Soviético, que era o conjunto da URSS e dos países que mantinham forte ligação – ou relações – com a mesma, todos vivendo sob semelhantes modelos socialistas.
Na mesma lógica de enfrentar países de ideologia semelhante, o grupo é formado por Tchecoslováquia, Romênia e Bulgária. Os tchecoslovacos estreiam fazendo 2x0 nos romenos, para a seguir os romenos vencerem os búlgaros por 3x1, também derrotados pelos tchecoslovacos por 2x1 – mas em casa, na capital Sofia. Com o fim do primeiro turno do grupo, a Tchecoslováquia é líder com 4 pontos, seguida da Romênia com 2 e a Bulgária com 0. No returno, os romenos visitam os búlgaros e vencem por 2x1, empatando em 4 pontos e partindo para a decisão da vaga na capital romena, Bucareste. Um jogo tenso, com Safranek marcando de pênalti para os tchecos aos 38 do primeiro tempo. Seria o único gol da partida, classificando os tchecoslovacos, que ainda enfrentariam a Bulgária em Bratislava e empatariam sem gols.
Egito e Itália se degladiariam no nono grupo. Duas vitórias italianas: 2x1 no estádio Mokhtar El Tetsh, em Cairo, hoje usado para treinamentos do Al Ahly, e um sonoro 5x0 no estádio Giuseppe Meazza (também conhecido como San Siro) em Milão. Classificação italiana, que ainda sofria com a trauma do melhor time do país o Torino, comandado por Valentino Mazzola, ter sofrido um acidente de avião em 1949. O time voltava de Lisboa, onde havia disputado um amistoso com o Benfica, quando o seu avião bateu na Basílica de Superga, que fica num morro em Turim. Todos os passageiros e tripulantes viriam a falecer.
Israel, que disputava as eliminatórias pela UEFA (confederação europeia de futebol), devido a desentendimentos e não reconhecimento dos países árabes (devido a simpatia com a causa palestina) da AFC (confederação asiática de futebol). Caiu no mesmo grupo de Iugoslávia e Grécia. Israel foi o saco de pancadas. Perdeu todos os jogos e nem gols marcou. Já a Iugoslávia venceu todos os jogos pelo placar mínimo, enquanto a Grécia, com duas vitórias e duas derrotas, ficou no meio do caminho.
É então a vez do grupo dos sulamericanos. Peru (que viria a desistir antes de jogar qualquer jogo), Brasil, Paraguai e Chile disputariam apenas uma vaga. E o Paraguai começa com tudo – vence o Chile em casa e fora, se colocando como um dos sérios postulantes à vaga. O Brasil então enfrenta o Chile em Santiago, vence por 2x0 com dois gols de Baltazar. Em seguida, vence o Paraguai em Assunção por 1x0, também gol de Baltazar. Havia empatado em pontos e tinha mais dois jogos, todos em casa – contra apenas um jogo de Chile e Paraguai. No primeiro deles, em março de 1953, vence o Chile em casa, com gol de – adivinha quem? – sempre ele, Baltazar. Também marca um no próximo jogo, uma vitória de 4x1 contra o Paraguai, num jogo que em nossos vizinhos paraguaios precisavam da vitória para se classificar. No entanto, a vaga foi nossa.
Também havia uma vaga para a América Central e do Norte. México, EUA e Haiti disputaram ela. O Haiti foi muito mal, perdendo todos os jogos, marcando 2 gols e tomando 18. O México ganhou todos os jogos sem dificuldade. 19 gols pró e 1 contra. Os EUA ficaram no meio termo, com 4 pontos contra 8 do México.
A vaga asiática seria decidida entre: República da China (popularmente conhecida por Taiwan), Japão e Coréia do Sul. Taiwan desistiu, enquanto Japão e Coréia do Sul decidiram a vaga no que seria, na prática, um mata-mata. Um jogo tenso, devido a história dos dois países. Na época do imperialismo japonês, o Japão anexou o (então unificado) Império Coreano, resultando num histórico de hostilidades entre os dois povos. Quem levou o melhor foram os sul-coreanos, que apesar de jogarem os dois jogos fora de casa, na capital japonesa Tóquio, venceram por 5x1 e empataram por 2x2.

Com isto, os times classificados seriam: Uruguai, Suíça, Alemanha Ocidental, Bélgica, Inglaterra, Escócia, França, Áustria, Turquia, Hungria, Tchecoslováquia, Itália, Iugoslávia, Brasil, México e Coréia do Sul. 45 inscrições foram feitas. 6 delas foram rejeitadas (Islândia, Bolívia, Costa Rica, Cuba, Vietnã e Índia). 3 times desistiram (Polônia, Peru e Taiwan). Somente a Hungria se classificou sem jogar. 33 times jogaram pelo menos uma partida. 208 gols em 57 jogos, totalizando 3,65 gols por jogo. Foi a primeira que jogaram alguma partida de eliminatórias para: Brasil, Chile, Japão, Paraguai, Protetorado do Sarre e Coréia do Sul.

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