Este é o quarto texto sobre as
eliminatórias das Copas do Mundo já disputadas. O primeiro, que pode ser
acessando clicando aqui, é sobre a Copa de
1934, o segundo, que você vê ao clicar aqui, é sobra a Copa de 1938 e o terceiro, que você pode ler ao clicar aqui, é sobre a Copa de 1950, no Brasil. É recomendado
que sejam lidos todos os textos anteriores afim de melhor entendimento do
torneio, seu contexto histórico e resultados passados.
Para esta copa, é notada uma organização
muito maior, menos times desistindo. Dois times já estavam classificados: a
Suíça, país sede, e o Uruguai campeão no famoso Maracanazzo. Os
regulamentos de quase todos os grupos são uniformizados, com 3 times por grupo,
se enfrentado em ida e volta, cada um valendo uma vaga.
O primeiro grupo era formado por Alemanha
Ocidental (agora com uma federação própria, separada da Alemanha Oriental),
Noruega e protetorado do Sarre. Você deve estar se perguntando: Sarre? Quem?
Bom, como parte da partição da Alemanha, um pedaço pequeno passou a ser
protetorado francês, onde hoje temos o estado do Sarre, cuja capital é
Saarbrücken. A Alemanha consegue a vaga, ganhando os dois jogos contra o Sarre,
empatando um e ganhando o outro contra a Noruega. O Sarre consegue um segundo
lugar, vencendo uma contra a Noruega e empatando a outra. Os escandinavos,
pouco tradicionais no futebol, ficam na lanterna sem uma vitória sequer.
O segundo grupo, também feito de maneira
política (tentava se separar os países do Bloco Soviético dos demais europeus),
contava com Bélgica, Suécia e Finlândia. A Bélgica ficou líder sem grandes
dificuldades. Venceu seus dois jogos fora, empatou em casa com a Finlândia e no
último jogo, em casa contra os suecos, venceu por 2x0. A Suécia, que estreia
levando 3x2 dos belgas, faz 4x0 e 3x3 contra os vizinhos finlandeses (em casa e
fora, respescticamente), porém no último jogo, com os belgas, valendo vaga,
perde e fica em segundo lugar.
Já relativo às nações britânicas, no grupo
3, foi repetido o critério da edição anterior da Copa, foi aproveitado o British
Home Championship. Nele, a Inglaterra é avassaladora. Vitórias de 4x1
contra Gales em Cardiff, 3x1 com a Irlanda do Norte em Liverpool e 4x2 na Escócia
em Glasgow. A Escócia fica com o segundo lugar – e decide aceitar a vaga.
Estreia com uma importantíssima vitória contra a Irlanda do Norte em Belfast,
empata em casa com País de Gales (do Gigante Buono John
Charles) num eletrizante 3x3 com um gol salvador do mesmo aos 43 do segundo
tempo. É o único ponto dos galeses na competição, que perdem todos os outros
jogos. Já os norte-irlandeses conseguem uma vitória de honra contra os galeses,
2x1 em Wrexham, no País de Gales, com dois gols de Peter McParland – um dos
maiores senão o maior jogador da história dos irlandeses.
O quarto grupo é composto de França,
Irlanda e Luxemburgo. Luxemburgo, como sempre, é o saco de pancadas e perde
todos os jogos, marcando um gol e sofrendo 19. A Irlanda vence as duas contra
Luxemburgo e perde as duas contra os franceses. Estes, com 100% de
aproveitamento, marcam incríveis 20 gols nos seus 4 jogos. Começava a
desabrochar o talento dos craques Piantoni, Kopa e Fontaine. O jogo em Paris
contra os luxemburgueses é uma sova, 8x0 com hat trick de Fontaine, que na
próxima Copa viria a marcar 13 gols em 6 jogos e escrever seu nome na história
do futebol.
Já no próximo grupo, o quinto, se
enfrentariam a Áustria – que viria a ser um dos grandes times desta edição da
Copa – e Portugal. Na ida, em Viena, Probst marca cinco gols e comanda a
goleada austríaca – que termina em 9x1, com um gol também dos grandes Ocwrik,
Wagner, de Dienst e um de pênalti de Ernst Happel, que depois viria a se tornar
um dos maiores treinadores da história do futebol. Na volta, um 0x0 garante os
germânicos na Copa.
No sexto grupo houve uma situação
curiosíssima: se enfrentariam Espanha e Turquia. Não havia salde de gols, com
os espanhóis tendo goleado por 4x1 na ida e perdido por 1x0 na volta, em
Istambul. É marcado um jogo extra, em terreno neutro – no caso, o Estádio
Olímpico de Roma – que após a Turquia estar vencendo por 2x1 até os 33 do
segundo tempo, vira um 2x2 com o gol espanhol de Escudero. Com o empate, como
seria decidida a vaga? Sorteio. Isso mesmo, uma vaga na Copa do Mundo sendo
decidida por sorteio. Um menino romano de 14 anos chamado Luigi Frango
Gemma, cujo pai trabalha no estádio teve seus olhos vendados. Eram dois papéis,
um escrito Turquia e um Espanha. O menino pega o da Turquia, que está classificada.
O sétimo grupo continha originalmente
Hungria, Polônia e Alemanha Oriental. Em 1953 trabalhadores da construção civil
da então Berlim Oriental decidem entrar em greve, e em resposta são duramente
reprimidos pela força nacional local, a Volkspolizei e pelas
tropas soviéticas. Essa instabilidade faz com que os alemães orientais prefiram
não jogar a Copa. Fariam bem. A Polônia acaba desistindo, e a Hungria, vivendo
a geração dos Magiáres Mágicos, de Púskas, Kocsis, Czibor, Hidegkuti, Bozsik e
Grosics, vinha formando um grande time, invicta desde 1950, nesse meio tempo
impondo duas humilhantes vitórias contra os ingleses, que já estavam com o
orgulho ferido devido à derrota para o semi-amador time dos EUA na Copa de
1950, acaba se classificando sem jogar. Todos os times do grupo faziam parte do
chamado Bloco Soviético, que era o conjunto da URSS e dos países que mantinham
forte ligação – ou relações – com a mesma, todos vivendo sob semelhantes
modelos socialistas.
Na mesma lógica de enfrentar países de ideologia
semelhante, o grupo é formado por Tchecoslováquia, Romênia e Bulgária. Os
tchecoslovacos estreiam fazendo 2x0 nos romenos, para a seguir os romenos
vencerem os búlgaros por 3x1, também derrotados pelos tchecoslovacos por 2x1 –
mas em casa, na capital Sofia. Com o fim do primeiro turno do grupo, a
Tchecoslováquia é líder com 4 pontos, seguida da Romênia com 2 e a Bulgária com
0. No returno, os romenos visitam os búlgaros e vencem por 2x1, empatando em 4
pontos e partindo para a decisão da vaga na capital romena, Bucareste. Um jogo
tenso, com Safranek marcando de pênalti para os tchecos aos 38 do primeiro
tempo. Seria o único gol da partida, classificando os tchecoslovacos, que ainda
enfrentariam a Bulgária em Bratislava e empatariam sem gols.
Egito e Itália se degladiariam no nono
grupo. Duas vitórias italianas: 2x1 no estádio Mokhtar El Tetsh, em Cairo, hoje
usado para treinamentos do Al Ahly, e um sonoro 5x0 no estádio Giuseppe Meazza
(também conhecido como San Siro) em Milão. Classificação italiana, que ainda
sofria com a trauma do melhor time do país o Torino, comandado por Valentino
Mazzola, ter sofrido um acidente de avião em 1949. O time voltava de Lisboa,
onde havia disputado um amistoso com o Benfica, quando o seu avião bateu na
Basílica de Superga, que fica num morro em Turim. Todos os passageiros e
tripulantes viriam a falecer.
Israel, que disputava as eliminatórias
pela UEFA (confederação europeia de futebol), devido a desentendimentos e não
reconhecimento dos países árabes (devido a simpatia com a causa palestina) da
AFC (confederação asiática de futebol). Caiu no mesmo grupo de Iugoslávia e
Grécia. Israel foi o saco de pancadas. Perdeu todos os jogos e nem gols marcou.
Já a Iugoslávia venceu todos os jogos pelo placar mínimo, enquanto a Grécia,
com duas vitórias e duas derrotas, ficou no meio do caminho.
É então a vez do grupo dos sulamericanos.
Peru (que viria a desistir antes de jogar qualquer jogo), Brasil, Paraguai e
Chile disputariam apenas uma vaga. E o Paraguai começa com tudo – vence o Chile
em casa e fora, se colocando como um dos sérios postulantes à vaga. O Brasil
então enfrenta o Chile em Santiago, vence por 2x0 com dois gols de Baltazar. Em
seguida, vence o Paraguai em Assunção por 1x0, também gol de Baltazar. Havia
empatado em pontos e tinha mais dois jogos, todos em casa – contra apenas um
jogo de Chile e Paraguai. No primeiro deles, em março de 1953, vence o Chile em
casa, com gol de – adivinha quem? – sempre ele, Baltazar. Também marca um no
próximo jogo, uma vitória de 4x1 contra o Paraguai, num jogo que em nossos
vizinhos paraguaios precisavam da vitória para se classificar. No entanto, a
vaga foi nossa.
Também havia uma vaga para a América
Central e do Norte. México, EUA e Haiti disputaram ela. O Haiti foi muito mal, perdendo
todos os jogos, marcando 2 gols e tomando 18. O México ganhou todos os jogos
sem dificuldade. 19 gols pró e 1 contra. Os EUA ficaram no meio termo, com 4
pontos contra 8 do México.
A vaga asiática seria decidida entre:
República da China (popularmente conhecida por Taiwan), Japão e Coréia do Sul.
Taiwan desistiu, enquanto Japão e Coréia do Sul decidiram a vaga no que seria,
na prática, um mata-mata. Um jogo tenso, devido a história dos dois países. Na
época do imperialismo japonês, o Japão anexou o (então unificado) Império
Coreano, resultando num histórico de hostilidades entre os dois povos. Quem
levou o melhor foram os sul-coreanos, que apesar de jogarem os dois jogos fora
de casa, na capital japonesa Tóquio, venceram por 5x1 e empataram por 2x2.
Com isto, os times
classificados seriam: Uruguai, Suíça, Alemanha Ocidental, Bélgica, Inglaterra,
Escócia, França, Áustria, Turquia, Hungria, Tchecoslováquia, Itália,
Iugoslávia, Brasil, México e Coréia do Sul. 45 inscrições foram feitas. 6 delas
foram rejeitadas (Islândia, Bolívia, Costa Rica, Cuba, Vietnã e Índia). 3 times
desistiram (Polônia, Peru e Taiwan). Somente a Hungria se classificou sem
jogar. 33 times jogaram pelo menos uma partida. 208 gols em 57 jogos,
totalizando 3,65 gols por jogo. Foi a primeira que jogaram alguma partida de
eliminatórias para: Brasil, Chile, Japão, Paraguai, Protetorado do Sarre e
Coréia do Sul.
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